Não ha coincidência. E também não há como analisar os desempenhos do Brasil em partidas fora de casa de maneira isolada. A vitória sobre a Argentina está profundamente arraigada às vitórias, também fora, sobre Uruguai, Chile e Venezuela. Em todos estes jogos, goleadas. Atuações primorosas. Gols do centroavante. Qual o contexto?
O 4-5-1 do Brasil – que pode ser desdobrado em 4-2-3-1 - estruturado com méritos pelo técnico Dunga, é um sistema voltado ao contra-ataque rápido. A estratégia alia dedicado bloqueio defensivo central, e saída rápida para o jogo pelos lados. Contra a Argentina, Dunga permitiu a troca de passes sem objetividade do time de Maradona, atraindo sua linha de meio-campo, para o bote e a resposta em velocidade. Deu certo.
Há alguns dias o britânico Jonathan Wilson, cronista do The Guardian e referência teórica do blog Preleção, afirmou que o 4-5-1 de Dunga tem uma grande diferença em comparação com o 4-5-1 dos clubes europeus – desponta o Arsenal da era Wenger, com seu 4-5-1 dos invencíveis, de Bergkamp. Segundo Wilson, o 4-5-1 europeu tem dois “wingers” na segunda linha de meio-campo, enquanto no Brasil há apenas um. Mais uma análise perfeita de Wilson.
O 4-5-1 do Arsenal, por exemplo, abre Arshavin por um lado e Bendtner pelo outro (ou Van Persie). Jogadores ofensivos, atuam alinhados. Com Dunga, entretanto, há Robinho ofensivo pela esquerda, e um meio-campista de muita atribuição defensiva: Elano, ou Ramires. Nessa formação, desalinha-se um pouco o desenho do desdobramento em 4-2-3-1 da Seleção.
Elano não atua na mesma linha de Kaká e Robinho. Joga mais próximo da dupla de volantes (Gilberto Silva e Felipe Melo). Mas, e esta contra-partida é muito importante, Maicon é um lateral com maior liberdade para apoio do que André Santos. Equilibram-se as ações pelos dois lados – Maicon prioritariamente, e Elano secundariamente na direita; Robinho prioritariamente, e André Santos secundariamente na esquerda.
Por dentro, Kaká centraliza essas transições, recuando pouco para poder acionar o contra-ataque. O que proporciona um posicionamento quase em duas linhas sem a bola, porque Elano e Robinho descem à altura semelhante dos volantes, embora não marquem tão pelos lados quanto exigiria se fosse um 4-4-2 em duas linhas. Assim nasceu o terceiro gol sobre a Argentina, por exemplo. Desarme busca um Kaká muito adiantado, desmarcado, e ele faz a transição rápida para Luís Fabiano.
Mas este 4-5-1 encontra bastante dificuldade, por se propôr à saída rápida, quando enfrenta uma equipe fechada. Foi assim na Copa das Confederações, contra a África do Sul, e em boa parte dos jogos em casa pelas Eliminatórias. O Brasil não é tão bom propondo o jogo quanto recuando estrategicamente para a saída rápida. Vendo-se na obrigação de organizar ações ofensivas com posse de bola, a estratégia não é tão eficaz.
Amanhã, Bielsa promete colocar o Chile para a frente. Com três atacantes. Apesar dos desfalques, a base tática do Brasil no seu 4-5-1 será mantida. Se o Chile confirmar mesmo a proposta agressiva, pode proporcionar a primeira grande atuação da Seleção Brasileira em solo pátrio. Quem sabe não é esta a oportunidade para o Brasil igualar em casa as atuações que tanto brilho alcançam fora de casa?
E, para acompanhar a análise de Jonathan Wilson, que chama o sistema tático e a estratégia de Dunga de um “4-5-1 à italiana”, cliquem aqui. Sempre vale a pena.
Postado por Eduardo Cecconi