Quando anunciei à minha colega Marta Sfredo que voltaria ao Peru, passados mais de 10 anos, ela foi logo intimando:
- Não podes deixar de ir ao Astrid y Gastón!
Sim, eu já tinha ouvido falar muito do restaurante que está entre os melhores do mundo (em 2015 ficou na posição 14, no ranking da revista britânica Restaurant, o mais reconhecido da gastronomia mundial) e como a gastronomia sempre ganha um espaço fundamental nas minhas andanças, resolvi seguir o conselho/intimação da Marta.
Sabendo que é muito concorrido, reservei com mais de um mês de antecedência. A resposta foi imediata, com o pedido para que confirmasse uma semana antes da data (e eu não li as letras nem tão miúdas, mas no fim deu tudo certo).
Rumo a Machu Picchu, só teríamos uma noite em Lima.
Depois de ter “perneado” o dia inteiro pela cidade que eu conhecia razoavelmente, mas é sempre bom rever, confesso que a vontade era tomar banho e dormir. Mas, ainda que em cima da hora, lá estávamos nós à porta do restaurante depois de vencer o complicado trânsito da cidade (não parece que o mundo inteiro está engarrafado?!).
O casarão fica no bairro San Isidro, não muito longe de Miraflores, onde estava hospedada.
Ele, o casarão, aliás, é um capítulo à parte. A construção de mais de 300 anos, a Casa Moreyra, é a antiga casa da fazenda San Isidro, imponente numa esquina do bairro.
O casal Gastón Acurio e Astrid Gutsche, que criou o restaurante em 1994, desde setembro de 2014, quando foi transferido para a nova sede, deixou à frente da casa a equipe de Diego Muñoz. O chef Gastón Acurio passou a se dedicar, então, a divulgar e pesquisar a cozinha peruana e latinoamericana.
Mas voltemos ao restaurante de agora. No grande casarão funcionam vários espaços:
- Astrid&Gastón Restaurante, onde só é servido o menu degustação de cada temporada
- La Barra Casa Moreyra, um lugar mais informal, com um cardápio que muda a cada estação e sempre dependendo da oferta de produtos locais, pensado em pratos para serem compartilhados
- El Cielo, com salões privados onde os pratos são personalizados
- El Edén, a horta que serve à cozinha da casa
- El Patio, que é usado para promover e ensinar gastronomia
- El Taller, um centro de pesquisa e laboratório gastronômico
Bom, antes mesmo da reserva, em conversa com meu companheiro de viagem adolescente, optei pelo La Barra. O ambiente mais informal e a comida com menos cerimônia seriam mais adequados.
Ao chegarmos à porta, ainda veio a oferta: se quiséssemos, poderíamos mudar de ideia e optar pelo menu degustação com 23 sequências (!). Ele me olhou meio assustado com a possibilidade e mantivemos nossa escolha.
E ela se revelou perfeita. O ambiente, bem descontraído, é muito agradável (ainda não entendi aquelas plantas de cabeça para baixo pendendo do teto!).
Apesar do nosso portunhol (ou por causa dele), o garçom que nos atendeu percebeu a dificuldade em compreendermos o cardápio e nos explicou com paciência e delicadeza, reduzindo nosso pedido, que seria exagerado para duas pessoas.
No cardápio atual que está disponível online, só está ali a entrada que escolhemos – os mini hambúrgueres de quínua, deliciosos. Como eles mesmos avisam, o cardápio muda constantemente, ao sabor da estação e da oferta de produtos locais.
Embora não consiga descrever tudo o que desfrutamos naquela noite, foi muito especial, do início ao fim. Terminamos com uma seleção de doces de chocolate que nos sugeriram e um chá de camomila que veio num charmoso minibule, com florzinhas de camomila frescas, colhidas na horta da casa.
Um jantar para não esquecer.