Na virada do ano, meu colaborador ANDRÉ MAGS foi ao farol de Santa Marta (SC) e escreveu a “historieta” abaixo. Veja os textos e as fotos do André.

“Quando o sol baixa, é bonito em qualquer lugar. Se tem água ou neve para espelhar, melhor ainda. Ou montanhas, para fazer desenhos com a luz no relevo. Ou pernas de quem assiste ao fenômeno, pegas desprevenidas. Ou um farol.
É em um lugar como o Farol de Santa Marta que se pode tentar usar o isolamento para explicar o fim da violência, as festas com entrada liberada, a cerveja barata, as mulheres ótimas e a maconha dentro do bar ou à beira do mar.
Isolamento relativo é esse. Uma balsa no norte liga Laguna ao farol por uns cinco minutos e oito reais. Depois, meio que uma hora de estrada de chão batido e esburacado. No sul, tudo é melhor. Uma estrada asfaltada antecipa a de terra. Então surge o farol de 1891 no horizonte.

Tive um pressentimento de que a noite seria boa. As pessoas começaram a chegar depois da 1h ao Surf Paradise e ao Boikago. Aí, em meio às tigelas de açaí com granola, vi a menina de flor verde no cabelo. Ela era uma mistura de Rossy de Palma com Drew Barrymore. O vestido verde combinava com a flor de maneira comovente.
O sol se levantou e eu troquei a rede com vista para as ondas e os rochedos pela cama. Tem um porém nesse mundo do Farol de Santa Marta que é a galera escutar sertanejos em volume com elefantíase enquanto o cara ainda está curando a ressaca. Troquei a cama pela praia e lá estava ela, de novo. Rossy Barrymore, com duas amigas e sem flor no cabelo.

Olhei para Rossy e Rossy me olhou. Virou uma coisa patética. Eu peço uma cerveja, ela pede também. Eu olho para ela, ela olha para mim. Um amiga encalha no chão, a outra observa os caras malhados, meu amigo afunda na cadeira para comer uns bolinhos e aí chega o Sorriso. Sabe quem é o Sorriso? É um cara que está sempre sorrindo e serve cervejas na beira da Praia do Cardoso. Procure por ele. Ele é legal e faz piadas de gaúchos.
Pois aí o Sorriso avisou que tinha acabado a cerveja em todos os bares da praia. Todos, sem exceção. Diabos, eram seis da tarde, somente!
Olhos nos olhos de novo e ela ficou sozinha. Era a hora da abordagem. Mexi o pé, só que ele encalhou na areia. Trancou em um montinho de padrões estéticos.
As amigas chegaram logo depois. Rossy levantou. Passou por mim olhando nos cílios e na sobrancelha e por fim na pupila.
O sol baixou de novo. Ela não apareceu no bar.
Não sei quem era ela. Mas sei que seu olhar na minha pupila pedia vingança.
Vingança contra todas as belas que a esmagavam naquela praia.”

P.S.: um leitor chamado Felipe alertou para um erro na data de inauguração do farol. Ela já aparece corrigida no texto acima. Obrigada, Felipe.