
Ainda bem que não conseguiram impedir Costanza Pascolato de escrever nos anos 1970. Muito menos de falar. A mezzo brasileira, mezzo italiana, que é referência em moda, comportamento e cultura no país — e fora dele — sofreu preconceito no início da carreira por não ter formação em Jornalismo. Até hoje, aos 75 anos, não se denomina jornalista. Mas é. E uma rara, daquelas de opinião marcante. Costanza trabalhou para veículos como a revista Claudia, o jornal a Folha de S. Paulo e atualmente assina uma coluna na Vogue Brasil e um blog para a Shop2gether.
— Outro dia alguém me falou: escuta, você não percebeu que nasceu com uma estrela? E eu falei: quer saber? Não tinha pensado nisso, pois também lido com tristezas, dificuldades, questões de saúde, mas, na verdade, tenho uma estrela, sim. A minha carreira foi longa, constante, assim como o meu nome — comentou.

Em passagem por Porto Alegre para lançar pela Capodarte a bolsa que leva seu nome, Costanza recebeu a coluna e confirmou por que é um ícone de elegância e um exemplo de lifestyle. Sem paciência para Facebook, diz que teve de se adaptar às novas linguagens, aprender a escrever para a internet e que adooooora ( com todos esses “o’s”) mexer no Instagram.
— Sou uma pessoa muito de imagem, estética — diz.
E basta olhar seu visual preto, mas nada básico, para entender. Falando nisso, e essa invasão de blogueiras no Brasil?
— As gerações mais jovens sempre tiveram a necessidade de se espelhar em outras pessoas. E essas meninas que estão surgindo são extraordinárias. Uma vez, lá em 1950, todo mundo olhava para as misses, depois a Globo entrou muito forte por aqui, pautou o conhecimento popular, e as atrizes começaram a ser referências. Agora, as blogueiras, inclusive a minha filha (Consuelo), são exemplos, o que elas fazem por marcas e produtos é incrível. São as novas cinderelas populares.

Quando Donatella Versace desembarcou no Brasil para apresentar a coleção em parceria com a Riachuelo na São Paulo Fashion Week, chamou a atenção sua aparência incompatível com a idade. Na mesma semana, a Veja São Paulo publicou uma matéria em que comparava a estilista à Costanza, no auge dos seus 75 anos e com visual invejável. Depois de brincar que “a luz da foto que a favoreceu”, a também consultora de moda falou sobre a importância de saber envelhecer:
— A gente não quer ficar velha. Se cuida, mas não persegue a juventude eterna. Isso não existe. Você não pode se despersonalizar, fazer horrores consigo mesmo cirurgicamente, viver só em função da ruga que apareceu, sabe? É terrível isso. A gente tem meios de se conservar através da saúde. Eu mesma faço musculação e pratiquei pilates por 14 anos. Mas isso é diferente de perseguir a tal fonte da juventude e ter medo de não ser mais atraente.

Aliás, na teoria de Costanza, até os relacionamentos têm prazo de validade:
— Teve uma hora em que percebi que estava ficando mais velha, e nem relacionamentos quis mais. Afinal, se você se casar com alguém lá atrás, viver uma vida inteira junto, é outra história, tem um contexto de amizade, parceria, entende? Mas eu me separei do primeiro, o segundo e o terceiro morreram, aí com o Nelsinho (Motta) chegou uma hora que eu disse: ” Meu Deus, não dá mais! Acabou essa fase do acasalamento”.
Parece que você tem que ser sempre uma coisa sexualmente aceita, agradável, atraente. As pessoas querem ficar novinhas e bonitinhas para impressionar. É, Costanza só melhora com o tempo.

Fotos: Andréa Graiz/Agência RBS
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