A cada dia, leio as notícias sobre a greve na saúde da Santa Catarina.
Apesar das tentações de encarar a medicina como uma outra profissão qualquer, portanto visando lucros, mil e um motivos fizeram com que eu optasse em trabalhar no Sistema Público de Saúde, TALVEZ pelo fato de ter trabalho na “Assistance Publique des Hôpitaux de Paris, França”, e ter vivenciado que o governo consegue oferecer um invejável ambiente de trabalho aos profissionais de saúde e um centro de verdadeira excelência de tratamento para os pacientes; TALVEZ por ter me formado em Instituições públicas e estar no ambiente do SUS hà 16 anos; PROVAVELMENTE pelo desejo de proporcionar uma urologia pública que em nada devesse e, que por vezes superasse a oferecida em clínicas particulares e CERTAMENTE pela criação e ética que me guiam e porque não reconhecer, a minha teimosia (poderia substituir esta palavra por convicção, mas pela realidade que presencio no SUS a palavra teimosia parece ser mais adequada).
Teimosia porque, infelizmente, as notícias na saúde são cada vez piores, ônibus apedrejado vira capa de jornal… Porém, não dá para esquecer que existe um paciente portador de um câncer que está em sua casa ha meses esperando o centro cirúrgico desde Hospitais reabrir, esperançoso, família ansiosa… Isto sim, me choca muito mais.
O retrato da saúde, pelo menos a saúde pública que vivencio dia-a-dia, faz pensar se insistir no trabalho público é o melhor. Chego a conclusão que, para mim, ainda é o melhor sim. Principalmente, porque continuo a acreditar que é melhor ter o reconhecimento através de um muito obrigado, um sorriso de um paciente e a consciência de estar oferecendo uma boa urologia aos pacientes que menos condições tem, do que da quantidade de “dim-dim” na conta no final do mês. A qualidade de vida depende de vários pilares para estar bem balanciada: profissão, família, sexualidade, social, saúde e financeiro.
Entendo que esta greve, não é apenas sobre questões financeira, de salário para os funcionários, e sim um clamor por uma saúde digna, com resolutividade, para que exista uma gestão profissional dos recursos que pagamos e isto se converta em serviços de qualidade.
Incomoda e muito, saber que a falta de equipamentos, falta de anestesistas e agora, a greve são argumentos (desculpas) diários que tenho que explicar aos pacientes que terão seu tratamento adiado por longos períodos, faz com que não se tenha condições de oferecer uma urologia de excelência aos pacientes usuários do SUS.
Uma andorinha não faz verão, porém se cada um fizer a sua parte, a saúde sim terá se tornado prioridade. Dinheiro também não muda muita coisa, temos que melhorar a nossa atitude e hábitos como povo, pensar no outro…