Um dos passeios mais legais que fizemos saindo de Taormina foi Siracusa e para minha total surpresa e desconhecimento , Noto. Distantes uma hora e meia de Taormina, não chega a ser uma viagem, mas um volta pelo passado cultural da Sicília.


Siracusa foi uma importante cidade da Magna Grécia, por volta do século V a.C. , quando o sul da Itália fazia parte da Grécia ,a cidade acabou se destacando e ameaçando a própria cidade de Atenas como aliada de Corintho e Esparta, na época em que foi governada pelo tirano Dionísio. O filósofo Arquimedes é natural de Siracusa. Muitas riquezas desta época estão bem conservadas no local , especialmente no Síto Arqueológico de Neapolis, fora do centro histórico medieval de Ortegia.

Um conselho bastante oportuno , não deixem para visitar a parte arqueológica num dia de calor perto do meio-dia, o local é árido e a visita vira uma quase tortura. Se for verão o mais apropriado seria um fim de tarde ou início de manhã! Além disto o centro morre na hora da ” siesta” , o que deixa tudo muito sem graça!

Em Neapolis o principal monumento é o Teatro Grego literalmente escavado na rocha e com um bela vista do mar , aqui várias tragédias foram encenadas nos concursos públicos financiados pelos governantes e muito apreciados pelo povo. O interessante é que os gregos ,na sua maioria mercadores ,, podiam avistar o porto e sair do teatro caso chegasse algum barco. Quase todos teatros gregos tem vista para o mar, já vi isto em Bodrum na Turquia, em Taormina e em várias outras pólis.

O Orecchio de Dionísio é um imensa gruta utilisada como cárcere pelo tirano, que podia ouvir o que seu prisioneiros falavam no interior, pelo formato especial da gruta que se assemelhar a um canal auditivo ela tem uma acústica perfeita quando se está do lado de fora! Foi denominada de Orelha de Dionísio pelo, não menos controverso pintor ,Caravaggio, que numa de suas fugas de Roma, por problemas com a justiça, esteve na região.

O parque tem muitas outras riquezas arqueológicas , pode-se passar quase o dia explorando seus recantos, principalmente se for na sombra!

Orecchio de Dionísio
Nossos jovens visitantes sucumbiram ao calor e deixaram o centro para, quem sabe, quando seu interesse histórico for maior que o desejo de se atirar numa praia de mar transparente. Acho que só quando adquirimos os primeiros cabelos brancos e o tempo urge , pensamos nesta troca. A propósito , a praia escolhida foi Fontane Bianche, onde paga-se para entrar , para ocupar os lettinos e dividir cada centímetro de areia escaldante com milhares de turistas! Fiquei feliz com minha idade e minhas escolhas, mas não resisti a um mergulho antes de seguir em frente!

A Piazza del Duomo em Ortigia (uma pequena ilha ligada ao continente por uma ponte) guarda riquezas não claramente oferecidas. A Igreja de Santa Lúcia , padroeira de Siracusa, tem a pintura original do martírio de Santa Lúcia feita por Caravaggio pouco tempo antes de receber indulgência do papa para voltar a Roma e, literalmente, “morrer na praia” antes de chegar a cidade. Suas peripécias pelo sul da Itália são contadas num grande cartaz dentro da Igreja.


O Duomo do século VII foi construído sobre as ruínas do templo de Atena de V a.C. e mantém as colunas do templo na sua lateral interna , o teto de madeira do período normando e também os mosaicos , a fachada data do período Barroco, uma verdadeira colcha de retalhos como toda a história da Sicília.


Ocupada por romanos , bizantinos, árabes, normandos, espanhóis e finalmente lutando pela unificação italiana , a cidade guarda marcas do cosmopolitismo de suas sucessivas dominações.
Em duas oportunidades nos século XVI e XVII a região foi destruída por terremotos que mudaram a feição da cidade e oportunizaram a reconstrução num estilo conhecido como Barroco Siciliano , muito bem representado na cidade de Noto.

Noto tem uma história grandiosa e chegou a ser citada por Cícero como ,bella polis, mas teve seu destino antigo selado pelo terremoto de 1698 que a devastou totalmente e permitindo a reconstrução como o maior exemplo do Barroco Siciliano. Como bem definiu a Ivone Bins , pelo equilíbrio de cores e formas, a cidade mais parece um cenário, onde o amarelo suave das pedras contrasta com a azul do céu , um cenário para um festim dos deuses, eu diria!


A Piazza del Duomo forma com o Palazzo Ducesio um perfeito equilíbrio entre o Barroco e o Neoclássico. O Duomo sofreu uma grande perda em 1998 com outro terremoto, mas já está em processo de restauração.


Mas o que mais atraiu nosso grupo para a visita de Noto foi a fama de ter o melhor sorvete do mundo. Verdade que este título é disputados por muitas cidades italiana , mas que ele não escapa do país isto eu garanto. Para nossa decepção a sorveteria mais famosa da cidade estava fechada , seguindo a estranha lógica de fechamento de estabelecimentos comerciais italianos, a boa vontade do dono.

Granita a melhor opção em Noto
Mas várias outras sorveterias oferecem granitas e sorvetes perfeitos para uma tarde calorenta, ainda mais num local dominado pela beleza e quase livre de turistas! Um passeio imperdível é subir na Igreja de São Carlo e ter a vista da cidade do alto, dois euros muito bem investidos .


Voltamos para Taormina com o olhar e o estômago repletos de novas cores e sabores.
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