
Nossa viagem foi no mês de julho que certamente não é a melhor época para viajar para India, é muito quente e estão começando as monções, prefira os meses de outubro a março quando as temperaturas são bem mais amenas e o tempo é seco.
Como planejamos ficar bastante tempo, foi o mês que calhou. E quando dei por mim já estava voando Paris/ Déli.
Meu primeiro teste de desapego, foi minha bagagem, uma mochila com apenas 9kgs pra passar um mês inteiro, antes mesmo de aterrissar na India eu já estava me sentindo um ser humano evoluído.

Esta era toda a minha bagagem, na mochila verde, câmera, lenços umedecidos, diário, guia e água, sempre!
Eu queria conhecer uma India real, quotidiana, das ruas, dos mercados , dos trens, uma viagem assim não pede, exige- pouca bagagem, não dá para caminhar naquelas ruas lotadas de vacas, rickshaws, bicicletas e de gente, muita gente, puxando malas.
Chegamos em Nova Déli em torno das 10h da noite. Minha cabeça girava, pois eu tinha um sentimento ambíguo com relação a India. Desde sempre quis conhecer este país, já havia pesquisado muito sobre a cultura, os hábitos, a religião, tudo me atraia e encantava, mas ao mesmo tempo lá no fundo eu tinha medo. A idéia de um pais de um bilhão de pessoas, com tão pouca violência, uma cultura dominada pela espiritualidade, pela idéia do desapego e da impermanência, geraram uma expectativa muito grande e por mais que eu estivesse preparada, a India foi muito mais do que eu poderia pensar.
Meus planos eram passar um mês, viajando basicamente pelo norte, e se eu não gostasse? Não me adaptasse… todas estas dúvidas me assaltavam durante o vôo.
Quando o avião pousou no aeroporto Indira Gandhi, meu coração estava aos pulos, olhei a minha volta, onde estavam as pessoas dormindo no chão? Onde estava o caos e a bagunça? Até ali um aeroporto normal, moderno, limpo, tudo muito curricular.
Meu primeiro contato com a verdadeira India foi na saída do saguão principal quando o calor de 35 graus nos atingiu, táxis de todos os tipos oferecendo serviços, pegamos um táxi pré pago do aeroporto até o nosso hotel.
Pessoalmente não sou a favor de viagens bolha, ou seja, aquelas que a gente fica só encerrado nos hotéis de luxo e assiste tudo da janela do ônibus. Acho que o ideal é misturar, andar pelas ruas e templos sentir de perto a realidade, o trânsito, a muvuca mesmo da India e quando isto for demais, fugir para algum lugar tranqüilo, longe das buzinas sim muuuitas buzinas, muitos carros na India tem uma placa na traseira escrito blow horn! Ou seja buzine!

É claro que eu gosto de luxo, quem não gosta?
Mas gosto também de viver profundamente os lugares, e para isto muitas vezes a gente tem que sair da zona de conforto, neste sentido a India é um lugar de extremos. Em um momento a gente está num lugar onde o luxo é algo inimaginável, suntuoso, opulento a poucos passos de uma miséria pungente e onipresente, mas tudo isto acontece sem drama, isto foi o que mais me surpreendeu. As pessoas são o que a India tem de melhor, eles tem uma alegria que beira a inocência. Eu adoro fotografia, principalmente fotografar pessoas, e eu tentava capturar as pessoas discretamente com receio de estar sendo invasiva, e quando eles percebiam, invariavelmente abriam um enorme sorriso e queriam mais fotos e chamavam os amigos e parentes para posar, sempre uma festa, e ninguém pedia dinheiro para isso.

As mães pintam os olhos das crianças como proteção – “para afugentar o demônio”

As mulheres do Rajastão são lindas e usam todo o tipo de pulseiras e ornamentos.
É claro que se você está lendo este texto é porque tem interesse pela India o que faz de você uma pessoa diferente, e aqui nenhum demérito por quem não se interessa, a India não é uma unanimidade, ela requer vontade. Eu acredito que certos lugares precisam de um tempo de aclimatação, assim como as altitudes, lugares tão complexos exigem tempo. A India é intensa, são muitas informações para processar, todos os sentidos ficam sobrecarregados. E a partir do momento que você começa a entender como o pais funciona, tudo fica mais leve e você aproveita tudo que a India tem para oferecer foi assim que aconteceu comigo.
Como se deslocar
De Nova Déli contratamos um carro com motorista para viajar até Rishikesh. Aqui abro um parênteses para falar um pouco sobre a melhor maneira de se deslocar na India. Nem pense em alugar um carro e sair dirigindo, isto seria loucura, aquele trânsito só eles entendem, pois é um caos total, com um agravante para nós brasileiros, é mão inglesa. Uma coisa que funciona super bem são os trens, por várias razões, a gente pode relaxar, ler, olhar a paisagem sem o stress da estrada onde o motorista costurava loucamente e onde várias vezes dei adeus ao mundo cruel, pois é muito natural em uma ultrapassagem ficar cara a cara com ônibus, caminhões e outros automóveis. Pegávamos uma cabine que à noite virava cama, com lençóis limpinhos e engomados, luz de leitura, e amanhecíamos no nosso destino. Se a distância for muito grande, vá de avião, tem boas companhias aéreas que cobrem todo o país.

As vacas dividem as ruas com motos, automóveis, rickswas, bicicletas e gente.
Nosso roteiro começou por Rishikesh, que fica ao norte próximo ao lendário Himalaia, a simples menção dos Himalaias me provocava um arrepio, o nome da cadeia de montanhas para mim sempre foi sinônimo de aventura e beleza.

Se você gosta dos Beatles (alguém não gosta?) talvez já tenha ouvido falar em Rishikesh, que ficou célebre no final da década de 60, quando os Beatles passaram uma temporada no Ashram do guru Maharishi Mahesh Yogi .
Rishikesh é um lugar mágico. A Meca para quem pratica ioga e meditação, lá existem várias opções para esta pratica e muitas pessoas vão lá em busca de um despertar espiritual ou reforçar suas crenças, seu auto conhecimento. Confesso que não foi o meu caso, eu queria ver de perto o que atraia tanto as pessoas, queria ver os rituais diários nas escadarias (gats) banhadas pelo poderoso e venerado rio Ganges, tudo isso em uma cidade pequena para padrões indianos, onde a autenticidade é mais forte.



Ponte de Ram Jhula, reparem nos macacos.
Fui em busca também da natureza, das florestas, e do Rio Ganges que em Rishikesh, assim como em outros lugares da India é uma entidade sagrada (Ganga Ma – mãe Ganga) que domina o quotidiano das pessoas, todos acorrem às suas margens buscando purificação diária, rituais nos seus gats acontecem todos os dias. O ritual diário do fogo, realizado pelo ashram Parmarth Niketan , uma cerimônia na qual 40 meninos brâmanes (da antiga casta dos sacerdotes) entoam mantras para depois serem abençoados, junto com os turistas da platéia, pelo líder Pujya Swami Chidanand Saraswatiji’s, que encerra a cerimônia passando às pessoas taças com fogo sagrado para purificação.

Nos gats (escadarias) no asrham Parmarth Niketan , a cerimônia diária do fogo.

Reparem naquela moça toda de branco no meio das pessoas, fiquei muito impressionada com a figura dela, optou por uma vida de ascetismo, parece uma santa.


Ritual de purificação pelo fogo.
Como é uma cidade sagrada, andar pelas ruas de Rishikesh é como se a gente estivesse vendo a National Geographic ao vivo, todos aqueles sadus (sábios, que renunciaram todo o tipo de prazer mundano e optaram por uma vida de ascetismo) pelas ruas, pessoas em peregrinação de todas as partes da India.

Os Sadhus, que no Hinduísmo é sinônimo de asceta, monge, vivem para meditar e tem um status de quase divindade na sociedade indiana.

Rishikesh também é um magneto para muitos jovens europeus que vem passar temporadas aqui, como um veraneio, alugam apartamentos, dormem em pousadas, tudo e muito barato, e aqui pode se fazer rafting no Ganges, que aqui tem as águas transparentes agente pode tomar banho á vontade. Passear em motinhos alugadas, aproveitar os pubs, meditar, praticar ioga, tudo muito eclético.

Alugamos duas scooters e fomos passear pelas montanhas na região e se purificar nas águas do Ganges.

O visual é muito lindo cheio de campos e lavouras de arroz.

Os macacos estão por todos os lugares.

Hora de mergulhar nas águas sagradas do Rio Ganges.

Os ashrans mais famosos, os hotéis e restaurantes e as escolas de yoga, ficam entres as duas jhulas (pontes) Laskham e Ram jhulas, ambas mais ao norte da cidade de Rishikesh ( esta não é muito interessante) o legal é ficar do outro lado destas pontes perto da base das montanhas.
Em Rishikesh tem restaurantes para todos os paladares um lugar que eu gostei muito, tem um astral super bom e uma vista do por do sol incrível é o Little Buddha, tem muitas batidas de frutas, wifi, se você viajar sozinho é o lugar para conhecer pessoas.

Rua principal de Laxman Julah

Vista da varanda do Little Buddha Café.

minha bebida favorita na India – Iced coffe

Por do sol no Ganges.
Próxima parada Jaipur no Rajastão.
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