Desde sempre adoro passear pelo Aparados da Serra na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. É um lugar que me transmite uma paz e uma conexão com a natureza meio transcendental. Este ano mesmo estive em Cambará e nos Parques dos Canions do Itaimbezinho e Fortaleza. Mas fazia mais de dez anos que não me aventurava mais profundamente e atrelar uma visita a São José dos Ausentes com uma cavalgada soou como música ao meus ouvidos.


Ver uma foto do Campofora no facebook foi como um imã para minha imaginação. Cavalgar durante dois dias na beira do canion Montenegro , o monte mais alto do RS, foi quase mais que um chamado , mas um comando.


Partimos de Porto Alegre via Rota do Sol em direção a Bom Jesus, hoje a estrada é asfaltada até Sâo José dos Ausentes seguindo esta rota. De lá são mais 40km em estrada de chão até a Fazenda Montenegro. É longe de Porto Alegre , sim, são perto de cinco horas de viagem por estradas lindas vazias e bem sinalizadas , mas não precisa pegar avião e é quase uma obrigação para um gaúcho conhecer a região. Então , vambora realizar porque a vida é longa mas não é infinita. E , de mais a mais , a gente às vezes vai bem mais longe para visitar “atrações” muito menos interessantes.


Vista de nosso quarto na Pousada Montenegro
Ausentes é como o nome diz, vazia linda e preservada. O turismo é ínfimo e por isto foi uma surpresa encontrar a Pousada Montenegro tão bem estruturada e cuidadosa. Por ali o pessoal tem infinito orgulho das tradições, estão pilchados desde a alma e não “fantasiados de gaúcho” para inglês ver.


Na casa principal quatro quartos com aquecimento ,(pegamos oito graus à noite em novembro) tem os nomes dos visitantes ilustres que passaram por ali, inclusive a repórter Glória Maria que foi a nossa anfitriã. Mais três casas com dois ou quatro quartos e um bolicho campeiro completam a pousada que tem um atendimento acolhedor e familiar e comida muito apetitosa.


Mas é com o Paulo e a Angela Hafner que a mágica se completa , os dois moradores de São Francisco de Paula comandam com total exclusividade o Campofora , um serviço único de cavalgadas com um plantel maravilhoso de cavalos crioulos onde cada dia se faz um percurso por fazendas, cachoeiras e canions da região.


Quem esta em busca de paz, um lugar intocado e sem nenhuma poluição visual achou o paraíso. Tudo muito cuidadoso , respeitando os limites do pessoal mais urbano e dando todo o acolhimento que o campo oferece. Éramos cinco , eu e meu marido de Porto Alegre, a Liége de Cruz Alta e seu namorado Alex de Paris e a inspiradíssima amazona Renata de Brasilia.

Vou parar por aqui , pois o texto que a Renata Varella nos brindou diz o que eu não teria palavras para descrever, gastem dois minutinho e leiam , prometo lágrimas de profundo e sincero reconhecimento!

MEU BRASIL BRASILEIRO por Renata Varella
“Estive recentemente na Serra Gaúcha para 4 dias de cavalgada por aquela bela paisagem. Aprendi várias coisas.
Ouvi e vi curicacas pica-paus do campo, gralhas azuis, noivinhas do rabo preto, carcarás, gaviões chimango, saracuras, sabiás do campo, pica-paus verde rajado, siriemas, graxains do mato, jacus, veados do campo. Vi a majestosa araucária.
Aprendi que nosso idioma é tão rico, que precisei de tradução para enterder as músicas. Versos como “onde se embala minha alma de campeiro, atraído pelos luzeiros das miradas querendonas”,” me enfrasco e canto um tango pras gurias, que sou filho de uma tia da empregada do gardel”, “me lendo a mão uma cigana disse tudo, ou capam esse cuiudo ou emprenho toda a nação”.
Músicas tristes, engraçadas, alegres, de todos os tipos, mas todas elas mostram o amor pelo campo, a identidade gauchesca, a influência dessa nossa América tão latina. Aprendi que o aperto de mão de um campeiro é forte, sincero, e que realmente sela uma amizade.
Ouvi termos como “Quero comer um vazio” (comer fraldinha),
Gaudério, (gaúcho sem eira nem beira que vive solto),
Pingo- (cavalo bom)
Tapado de nojo ( a forma mais definitiva de detestar algo), “Me cairam os butias do bolso” (fiquei impressionado), “Avio” (isqueiro),
“Demorou um eito” (demorou muito)
“Munaia” (baita, muito)..
“Pilchado” (vestido com a vestimenta completa do Gaúcho)
Aprendi que cavalos usam arreio, basto, serigote, casquinho . Aprendi que suas pelagens são diferentes das que conheço: gateado rosilho ruivo, baio ruano, palomino, picaço, zaino…
Aprendi que o cavalo crioulo é talvez uma das melhores raças que já vi: fortes, destemidos, rápidos e muito, muito meigos, além de extremamente resistentes. Aprendi tanto. Mas aprendi sobretudo que meu país vale a pena, que minha ascendência tem valor, que meu continente é rico em sons, nuances, fauna e flora. Que cada cantinho tem um valor inestimável e que nosso povo tem que ser cultuado. Ir a Paris deve ser maravilhoso, sem dúvida. Mas ir ao BRASIL é mais maravilhoso ainda. Obrigada Paulo Hafner e Angela Hafner por me mostrarem isso. Que a Campofora continue abrindo o coração das pessoas. Com certeza hoje, sou uma pessoa melhor.”
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