Chegamos a Bagé ao entardecer e se você nunca ouviu falar da luminosidade do pampa, não perde por esperar!
Seguimos direto para cidade cenográfica de Santa Fé, e parecia que eu estava ouvindo o Capitão Rodrigo irrompendo no bar do Nicolau e dizendo:
“Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!” na pele do ator Tiago Lacerda.
Em 2012, Bagé foi um dos cenários escolhidos pelo diretor Jayme Monjardim, por sua luz (olha a luz aqui novamente!) e paisagem ideal para as filmagens do longa “O Tempo e o Vento” construindo aqui uma cidade em meio ao pampa.
O filme é inspirado na maior obra do escritor gaúcho Érico Veríssimo, que conta a história da família Terra Cambará até o final do século XIX. Retrata a formação do Rio Grande do Sul, a formação do território brasileiro, a construção da sua cultura e a demarcação de suas fronteiras. Além de ter imortalizado personagens como Ana Terra, Capitão Rodrigo e Bibiana.
O cenário está um pouco desgastado pelo tempo, sua construção foi feita para ser efêmera mas a comunidade pediu e o espaço foi doado a prefeitura que busca recursos para a reconstrução em material mais resistente.
Mas a magia está presente e a gente torcendo para que consigam manter viva este pedacinho da história recente. Enquanto isto aproveitemos o ambiente bucólico e vejamos a beleza que ele conserva.
Seguimos com pressa para não perder o entardecer na Vila Santa Thereza, também na entrada da cidade e com um passado com muito o que contar.
A Charqueada de Santa Thereza iniciou em 1897, fundada pelo comerciante português Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães, que chegou a ser o maior arrecadador de impostos da província, contando com 600 homens trabalhando e abatendo cerca de 100.000 reses .
No entorno da charqueada Santa Thereza, foi edificado um amplo complexo urbano e industrial, formado pela vila de operários, palacete do proprietário, capela, coreto, teatro, padaria, lagos artificiais, alfaiataria, fábrica de tonéis, restaurante popular além de uma escola para mais de 60 alunos. O trilho da via férrea chegava até dentro da propriedade.
Tudo está bem conservado pela Associação Pró – Santa Thereza, fundada em 2003 , que mantém o patrimônio, com exceção do palacete que já estava em ruínas.
Chegamos a Bagé em noite de festa. Era dia 24 de maio, dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora Auxiliadora. A população toda mobilizada para a procissão que corta as principais ruas do centro, casas enfeitadas com velas nas janelas e música em frente ao IMBA , Instituto Municipal de Belas Artes.
O Museu Dom Diogo de Sousa, antiga Beneficência Portuguesa iluminado pelo luar era um primor.
Jantamos um honesto buffet de sopas no café Tarragona, uma das belas casas restauradas da Praça Júlio de Castilhos.
Também conhecida como Praça da Estação, abriga o monumento homenageando um dos personagens mais famosos da cidade, o Analista de Bagé , sua secretária Lindaura e o criador Luis Fernando Veríssimo, além de nossa companheira de todas as roubadas, Magda Garcia. Ali o impagável dito:
“Tem muito paciente que acha que o umbigo dele é o centro do mundo, quando todo mundo sabe que é Bagé” Analista de Bagé
O centro histórico é muito gracioso e bem conservado, muitas casas do século XIX mantém o legado de uma passado rico e glamoroso. Diversas praças dão um clima de um lugar onde se pode aproveitar o tempo, vendo a vida passar.
A antiga estação férrea inaugurada em 1884 é testemunha de um passado onde o trem de passageiros trazia as autoridades, saudadas por bandas musicais da cidade. Bagé, então, estava ligada à cidade de Pelotas e Rio Grande via férrea, o gado e o charque bajeenses chegariam a outros mercados. O progresso chegava e a cidade orgulhava-se. Hoje o prédio faz parte do centro administrativo.
Para finalizar um pit stop na LEB, Livraria e Café Bageense. Na minha opinião uma cidade que consegue manter uma livraria/café deveria receber um selo de qualidade! Foi um prazer conhecê-la.
“Eu sempre digo que Deus criou o resto do mundo primeiro e o Rio Grande do Sul quando pegou a prática, mas as pessoas dizem que isso é bairrismo. ” Luis Fernando Verissimo
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