Ano passado fizemos a trilha de Salkantay, próximo a Cusco, que foi uma experiência muito legal, éramos um grupo de 12 pessoas do mundo inteiro. Mas meu coração pulsava pelas montanhas no norte do Peru onde em 2015, havíamos feito a trilha da Laguna de Santa Cruz na Cordilheira Blanca.
Se você quiser saber mais sobre Huaraz e a Cordilheira Blanca olha aqui: http://www.viajandocomarte.com.br/trilha-e-avent…ra-branca-peru/
Na ocasião jantamos na melhor (única : ) ) creperia em Huaraz, a do francês Patrick, e ele falou muito sobre a beleza impressionante da Cordilheira de Huayhuash, aquilo ficou marcado a fogo na minha mente e voilá! 3 anos depois estávamos de volta a Huaraz, a meca latino americana de trilhas e escaladas.
Desta vez a pegada era bem mais forte, a trilha seria de 6 dias e mais 2 trilhas prévias de aclimatação, ou você está achando que andar entre 4000 e 5000 metros de altitude é moleza?
Aqui nós 3, eu, Luisa e Ana, saindo para nossa primeira trilha de aclimatação, em uma montanha próxima a Huaraz.
Tudo correu bem nas trilhas de aclimatação, nada de soroche, como eles chamam o mal da altitude. A gente se sente um pouco mais ofegante, mas tem várias pessoas que passam mal, os sintomas mais comuns são dor de cabeça e enjôo. Mas treino é treino e jogo é jogo, só lá nas montanhas que realmente poderíamos saber como nosso organismo iria responder.
Tudo certo, muita expectativa, zarpamos em uma viagem de van de umas 6 horas.
E aqui transcrevo meu diário dos dias que se seguiram:
Saindo da estrada Pan americana, a paisagem já começou a mudar.
Este é o mapa do nosso circuito
Dia 1 – Maracancha ou Cuartelhuain.
Saimos de Huaraz as 9hs, dia lindo de sol. Gravei a chamada para o nosso podcast do Peru e pegamos a estrada em direção ao sul, a mesma que vai para Lima. Depois de 1 hora entramos a esquerda e entramos em uma estrada cênica tendo a Cordillera Huayhuash ao fundo, lindo demais.
Paramos ao lado de um rio de corredeira em um lugarzinho gramado perfeito e almoçamos papas com crema de espinaca. As comidas de acampamento aqui são deliciosas, os “chefs” das trilhas fazem cursos de culinária especial para acampamento, a gente come trutas assadas, cereais com frutas aquecidos, sopas energizantes, tudo muito bom.
Nosso pic nic durante a viagem.
Seguimos viagem por estradinhas cada vez mais estreitas e ingremes.
Entrando para dentro do vale.
Chegamos a Llamac e depois entramos no parque na vila de Pocpa, 15 soles por pessoa.
Chegamos ao acampamento em torno das 14:30, já havia 2 grupos e chegaram mais.
Tomamos o cha da tarde e agora começou a chover, espero que não dure tanto tempo.
Parou a chuva e o final de tarde foi lindo, dourado, auspicioso.
Entardecer de tirar o fôlego previa um começo auspicioso para o nosso grande desafio
Dia 2 - Cuartelhuain / Mitucocha.
Saimos as 6hs e cruzamos o passo Cacanan 4700m
Depois seguimos e almoçamos e subimos o segundo Passo através do lugar chamado Quebrada Caliente. E a chuva gelada feito mini granizos nos pegou no caminho.
Esta foto foi logo depois da primeira subida forte, a gente acha que não vai conseguir afinal 4.700mt, é um bocado, mas o segredo, é respeitar o seu ritmo, ir devagar, e quando a gente chega lá no topo, o sentimento é indescritível.
Foi muito difícil, um desafio enorme, fazermos em 1 dia o que as pessoas normalmente fazem em 2 dias, caminhamos 11 hs e chegamos no acampamento já quase escuro. Foi muito, muito, muito exaustivo.
Acampamos ao lado da lagoa Mitucocha.
O lugar é fantástico, mas só pudemos apreciar o cenário quando amanheceu, ontem estávamos completamente exaustas, jantamos e capotamos.
Quando amanheceu o visual era este, e toda a bronca do dia anterior já havia passado
Dia 3 – Laguna Carhuacocha – Passo Carniceiro (4.800mts)
Saimos as 7h 30 e o trajeto foi cinematográfico, lindíssimo, 3 lagunas e subimos, subimos até o miradouro a 4400m. Uma das paisagens mais lindas que já vi na vida. As vezes ouvíamos uns estrondos ameaçadores que eram pequenas avalanches e gretas estourando. A água das lagoas era muito verde, foi uma visão inesquecível.
Lupinas nos acompanharam por todo o caminho.
Visão espetacular das 3 lagoas
Nestor nosso guia preparando o almoço.
Ali naquele lugar espetacular sentamos para descansar e comer um lanche.
Mas ainda era cedo para festejar, nos esperava um dos pasos mais duros, o Carniceiro, com este nome sugestivo subimos por ele até o topo de 4800m e lá no teto do mundo, almoçamos.
No topo do Carniceiro
Mas ainda estávamos a quase 3 horas de caminhada do acampamento e começamos a descer com um sol forte por um vale lindo.
Quando olhamos na direção que estávamos seguindo de um minuto para o outro havia se formado um céu escuro ameaçador e víamos mangas fortes de chuva mais ao longe. Quando a tempestade nos alcançou era um vento forte com mini granizos de neve que açoitavam o nosso rosto, caminhamos uma meia hora nestas condições, quando de repente assim como veio, a tempestade e as nuvens se foram o sol voltou e chegamos ao acampamento pelas 4h da tarde. Ana que foi a cavalo e por outro caminho evitando o Carniceiro havia chegado ao acampamento as 13:30, bem descansada e faceira.
Arrumamos tudo, jantamos, na janta sempre temos uma sopa deliciosa de entrada, ontem foi de Zapallo, (moranga) depois frango com cogumelos e arroz e uma mini torta de sobremesa.
As 9h fomos dormir, dormi muitíssimo bem, foi restaurador.
lanchinho da tarde.
Dia 4 – domingo – Passo Portachuelo (4750mts) / Laguna Viconga
Saimos 7:15h do acampamento, com bastante neblina e logo abriu um dia magnifico de sol, hoje fomos todo o trajeto juntas, Ana no cavalo e Luisa e eu caminhando. O dia foi ótimo, tivemos um Paso Portachuelo, leve não tão ingreme. Vistas incríveis de montanhas, lagos verdes um lago enorme, o Viconga que serve de reserva de água em caso de seca.
Fizemos um lanche após o Passo, e depois subimos ao longo da barragem, para cairmos em um vale lindo, verde, uma área super remota, com cachoeiras, e aprendemos que neste mesmo lugar era usado como campo de treinamento da facção terrorista Sendero Luminoso. Até chegarmos ao nosso acampamento as 13:30, foi o dia mais light e que chegamos mais cedo. Aqui tem 3 piscinas termais com água extremamente quente, tomamos banho! Foi uma glória! Já estávamos nos sentindo um tanto azedas e poder relaxar o corpo cansado naquela água quente foi maravilhoso! Tempo tão lindo que colocamos a mesa e almoçamos ao ar livre, memórias para a vida.
Piscinas de águas termais, perfeito para depois de dias de trilhas, um luxo!
Dia 5 – Laguna Viconga / Passo Cuyoc (5.000mts) / Passo Guanacpatay ( 4.300mts)
A noite passada foi fria, o ar estava fino e o céu absurdamente estrelado, nestas horas me dou conta porque estou neste lugar, porque tantas horas caminhando, e me sinto minúscula diante desta natureza onipresente, dos seus barulhos noturnos, das águas correndo cristalinas, e parece que chego muito próxima do paraíso, ou ou menos do que penso ser o paraíso e tudo faz sentido.
Hoje raspamos o topo do mundo, subimos o Passo Cuyoc o mais alto de todo o circuito, 5000mts, a visão é incrível, o dia estava ensolarado e nosso astral animado. Descemos e almoçamos em um vale gramado, e nosso guia, muito gente boa, o Nestor, nos permitiu até uma sestiazinha gaúcha no sol.
Seguimos pela quebrada Huanactapay e acampamos em Rinconada a 4.300mts.
mãos de 5.000 mts, o lugar mais alto de todo o circuito – Passo Cuyoc
almocinho no sol, a gente merecia!
Nosso último acampamento, lugar lindo demais.
Dia 6 - Huayllap / Huaraz
Acordamos cedinho, e partimos para aquele que seria nosso último dia de caminhada, nesta noite passei muito mal fui acometida pela maldição de Cortez, se é que vocês me entendem… foi um deus nos acuda, durante a noite. Comecei caminhando, mas depois da 2a parada, estava me sentindo muito fraca e montei no cavalo. Subimos bastante, e garanto que prefiro mil vezes estar sobre as minhas pernas do que montada a cavalo naqueles desfiladeiros, mas eu não tinha escolha. A descida foi caminhando por um vale tranquilo e bonito, até chegarmos a um vilarejo onde a van estava nos esperando para uma longa jornada de volta a Huaraz.
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