Confesso que estranhei o novo hábito, não exatamente pela bebida mas pelo calor que está fazendo. Eu sempre achei que nesta temperatura as louras geladas reinassem absolutas e fique sabendo, aliás, vi que não é bem assim. Vi que os vinhos, brancos na verdade, estão conquistando seu espaço, sobretudo entre os mais jovens. Para acompanhar, basta um biscoito, que chamamos “champanhe”, ou alguns pedaços de queijo.
Tornou-se uma cena comum grupos de mulheres com suas taças e garrafas para brindar o pôr do sol. Uma das adeptas da prática é a estilista Ana Lu, que conheci por acaso. Moro perto, posso ir até de skate. Mas nunca adquiri o hábito de ir a aquela área em frente do Iberê ver o pôr do sol. Ela disse “Telefono e me programo. Levo um baldinho com gelo e taças de acrílico, para não correr o risco de quebrarem. Adoro encontrar minhas amigas, ali tem estacionamento free, pode-se bater um papo e apreciar o pôr do sol”.
A história é mais ou menos assim. Estou com três visitantes argentinas. Não são minhas hospedes mas fazemos as honras e passando ali, resolvi parar. E uma delas disse “Me parece ‘La Ciudad Roja’ que tenemos em Buenos Aires.” Depois fiquei sabendo que na Ciudad Roja deles não tem pôr do sol, o “rojo” é dado pelas sinaleiras vermelhas dos carros de casais namorando. Era como no Rio no passado, ir ver corridas de submarinos no Leblon.
Gostei da ideia e pretendo repetir. A seguir a Ana Lu, que deve ter morado na Cidade Luz, fez uma comparação: se em Paris moradores e turistas levam suas bebidas para ver o escurecer nos jardins do Champ de Mars e as luzes da Torre Eiffel se acenderem, a programação pop do verão é aproveitar o lugar, o respaldo do museu e trazer o seu próprio vinhos. Além de ser saborosa, ajuda a manter a forma e a saúde, diz uma de suas companheiras.
Os vinhos rosés, brancos e espumantes refletem o espírito que busca sociabilidade e um certo glamour. – O vinho sempre deixa a conversa mais animada, e seus apreciadores gostam de falar sobre assuntos mais interessantes. O vinho não é para ficar bebendo garrafas e mais garrafas. É uma bebida limitante e que abre o apetite.
Ouvi tudo quase em silêncio. As portenhas se encantaram com o papo e com a ideia, quando voltarem de Santa Catarina, prometi leva-las até lá. Já comprei até os vinhos. Tomara que a ideia se mantenha. E no inverno, quem sabe, teremos uma nova Cidade Roja. Sorte Ana Lu.