Na postagem anterior falamos da Birmânia ou de Mianmar, cujo nome foi mudado, pois lembrava o massacre da Birmânia que existiu, e de tão sangrento ninguém quer ser lembrado por ele.
Viajantes são unânimes em considerar Shwedagon como o mais belo pagode budista do mundo. Ele fica no alto de uma escarpa ao lado do rio, e chegar até lá, para muitos, é o sonho de uma vida. Vai-se por escadarias cobertas, e ao chegar no fim dos degraus, saindo da sombra e descobrir o templo dourado brilhando ao sol, é uma visão impressionante. E se ficar por lá na barranca do Rio, verá também o sol se pôr. Se você virar as costas para o poente, verá o templo dourado refletindo.
O outro centro de peregrinação – que todo birmanês tem que fazer pelo menos uma vez, é a visita a um templo de nome muito complicado, conhecido pelos estrangeiros como O Rochedo de Ouro. Embora fique apenas 200km de Rangun, chegar ali é uma odisseia. Se o Pipi da Motta diz isto hoje, imaginem quando eu fui há uns 40 anos; era uma expedição e alguns trechos em lombo de elefante.
O santuário fica na selva, numa colina de mais de 1000m de altura no meio do nada. Mesmo de carro, é preciso um dia para ir e outro para voltar (isso na estação seca, na época das chuvas a estrada desaparece). Mesmo assim, o carro só chega a uma espécie de campo base. Lá é preciso tomar um ônibus mais alto – com tração até no estepe – que só sai quando está lotado. Uma hora depois chega-se a um largo cheio de bancas que vendem artesanato e comidas. Dali em diante, só a pé ou de andor, “carregado como Cleópatra I”, dizem eles rindo. As cadeiras são levadas por quatro carregadores. Parece um andor de procissão. Como falei no passado, o trajeto era feito de elefante e levava dias. Era um barato, de elefante pela floresta, e com isto, estaríamos a salvo dos rinocerontes pretos.
O rochedo de forma estranha está suspenso no abismo, como se fosse cair. Todos juram que está suspenso no ar, seguro apenas por um fio de cabelo de Buda. Ano após ano, os peregrinos cobrem a pedra sagrada com pequenas folhas de ouro, do tamanho de um selo. Milhares de peregrinos passam dias e noites rezando em volta (e dentro) do templo. Sair quando já escureceu é um impacto enorme; desce-se as escadas e vê-se mais embaixo centenas, milhares de velas acesas numa cerimônia silenciosa e emocionante. Para muitos, ter chegado ali é cumprir uma meta obrigatória de sua existência.