O NOME QUE NÃO PEGOU

Sou um usuário da Castelo Branco, e o retorno ao nome original me alegrou. Nunca entendi bem o propósito da mudança de nomes e o ódio que alguns continuam tendo 20 ou 30 anos depois da anistia. Quando veio a “mudança”, a destituição do presidente Jango, eu era metalúrgico em SP e trabalhava em uma fábrica, às margens (fétidas) do Arroio Ipiranga, do famoso grito do Dom Pedro, da nossa independência e hoje nome do Museu do Ipiranga (que era bem perto).
Não quero entrar no assunto política, até por nunca ter sido nem atuante nem conhecedor, mas posso garantir que a “bagunça” era tanta que nenhum país poderia continuar funcionando. Exemplificando para terminar, um dia chego na fábrica no horário de costume e está tudo parado no andar térreo, onde era a linha de montagem. Na época não havia muitos telefones, e só se ficava sabendo ao chegar. Perguntei a 2 ou 3 que não sabiam o porque da parada até que falei com um dos líderes. Ele disse as mesmas coisas que ouço e vejo nas passeatas até hoje e completou “esta paralisação é em apoio ao correio e telégrafo argentino”!!!.
Pelo que me dizem sobre a mudança do nome, alguns vereadores votaram por razões ideológicas (o que aceito perfeitamente) e outros acuados pela galera organizada e transportada cedo para lotar a galeria. Nunca entendi bem este ódio feroz e me parece que é só nosso e quem sabe ajude a explicar o lento desprestígio do nosso estado. (Na fábrica que falei, a Vemag, nós e Minas Gerais lutavamos para saber a cada mês quem vendia mais unidades. Hoje, MG comercializa o dobro de veículos que o nosso estado).
Sem dúvida a Fiat ajudou nesta diferenciação, lembro que tivemos a Ford, um iluminado mandou para a Bahia. Mas agora fico sabendo pela coluna do Humberto Werneck no jornal O Globo que os cariocas passam todos os dias ao lado de uma figura em bronze do Mar. Castelo Branco normalmente, como o fazem quando passam por Cayimi, Clarice Lispector ou Tom Jobim.
É no começo da Avenida Atlântica. E nunca passou pela cabeça de alguém tirar o pequeno bronze do grande homem que foi o Castelo e o grande vem ainda da segunda guerra. Já aqui, em PA, a Câmara acovardada pela galeria insuflada e barulhenta votou para risca-lo da história.
Comentando o fato com um ex-aluno no Brique da Redenção, fiquei sabendo que no Colégio Militar segue o nome do Lamarca, que ali estudou e se mandou para a oposição, levando até as armas, o que demonstra bem o que ele pretendia. Os militares, diretamente afetados pelo desertor, mantiveram seu nome gravado em uma placa em mármore, afinal ele foi aluno.
Lembro de ter ouvido do meu amigo Claude Bonjean (editor do “Le Pont”) que Paris, apesar de invadida pelos russos lá por 1885, nunca pensou em retirar seus nomes das praças, logradouros e estações. Aliás, até incorporaram algumas palavras russas ao seu vocabulário: bistrô, por exemplo, era a palavra usada pelos soldados invasores quando entravam em pequenos bares e restaurantes. Sem dominar o francês e tendo pressa, repetiam bistrô, bistrô, exatamente, rápido, rápido, em seu idioma, que acabou dando nome a esse tipo de restaurante.
Parece que acima do Equador são diferentes em tudo. Sem-cerimônia entre os vivos, os que já estão no cemitério Père Lachais. No túmulo do jovem jornalista Victor Noir, baleado por um primo de Napoleão III há quase 150 anos. Sua bela e trágica figura, caída sobre a lápide, esvaziou-se de toda conotação política, ao mesmo tempo que nela inflava um imprevisto apelo erótico, ditado pelo volume do sexo sob as calças. A protuberância converteu-se em talismã de jovens desejosas de engravidar. De tanto ser acariciado, aquele avantajado detalhe de sua anatomia acabou por conferir ao dono um brilho que, em vida, ele talvez não tenha tido.
Se fosse aqui provavelmente o primo do Napoleão teria sido emasculado.
