
Nos últimos dias, revi centenas de imagens que não sairão das nossas lembranças. As cenas dos aviões explodindo, as chamas, os corpos caindo das torres nos dão um novo choque – mas as filas já voltaram aos aeroportos. Já nos acostumamos com os guardas controlando inocentes passageiros que, às vezes, têm que tirar até os sapatos e mostrar o que têm nos bolsos. Faço isso sem problemas – pelo contrário, gosto que zelem pela minha segurança. Discordo das pessoas que dizem que esta é uma humilhação imposta pela América. Não considero exagerado o cuidado, depois de ter visto o buraco que ficou no lugar das torres. Muito pelo contrário, me preocupo quando o controle é mais superficial.
E, ainda, eu concordaria com tudo o que viesse minimizar os horrores daquele inesquecível setembro. As críticas parecem vindas de pessoas que conhecem pouco ou fingem que esqueceram o que podem fazer os radicais islâmicos ou qualquer radical.
Na verdade, viajando é que nós aprendemos um pouco sobre o mundo. Na mesma hora em que desci do avião em Chicago, uma semana antes do primeiro aniversário do 11 de setembro, pude ver como tudo o que eu pensava que ia acontecer no aeroporto era errado. Não houve nenhum exagero. Aliás, não houve na viagem inteira. Com um outro casal, este norueguês, demos a volta nos Estados Unidos. Cinquenta dias, quase 11.000 quilômetros, sem que absolutamente ninguém nos pedisse papéis ou abrisse nosso porta-malas.
Mas, na mesma hora em que eu, um iemenita, um paquistanês e um peruano chegamos ao país, cada um vê a cidade, o país, da sua forma, bastante diferente da trincheira que havia imaginado.
A maioria das pessoas, no entanto, não tem a oportunidade de ir aos lugares e ver. Cabe a nós, alguns de nós, pelo menos, com o nosso tempo e dinheiro, dar as impressões. Certas para uns, erradas para outros.
Os mesmos princípios se aplicam a todos. Mesmo se a gente não vai mais longe que a padaria da esquina ou ao restaurante libanês do outro quarteirão, acho que devemos externar nossos conceitos a qualquer momento e tentar caminhar fora de nossos preconceitos. Aqueles que ficam em casa podem achar que o mundo lá fora é perigoso (e quanto mais ficarem em casa, mais perigoso lhes parecerá).
Há uns 4 ou 5 anos, em férias fotográficas, fui ao Oriente Médio e à Síria, hoje tão tumultuada. Logo me pareceu que o seu povo era bem mais amigável do que a ditadura do país sugeria na época, que as ruas eram limpas e que, para um visitante, a vida em muitos aspectos era mais segura do que na cidade de onde eu vinha.
Viajar ao exterior nos permite equiparar melhor as situações e oportunidades da cidade que nós aceitamos como nossa. Com todas as guerras e conflitos da região, nossa tendência é (a minha era) achar que o Oriente Médio era um salve-se-quem-puder.
Voltei surpreso. Guerra à parte, é muito seguro.
Não conheço, em todos esses anos “on the road”, alguém que tenha sido roubado no Oriente Médio. As pessoas zelam pelas suas mãos e pelos seus pescoços, mas alguns extremistas fanáticos desequilibrados fizeram o “nine eleven” acontecer. Que outra forma de impedir a repetição sem uma vigilância exacerbada? Em Tel Aviv, embarcando para a França, tiraram as barbatanas da minha camisa. Também não reclamei e, se tivesse que dizer algo, diria: muito obrigado.
Foto da Revista Veja.