Ficar embriagado com a política não é mais uma metáfora – pelo menos, na Argentina. Quatro “cervejas políticas” foram lançadas, e o peronismo, que já está presente em todos os âmbitos da vida local – em estátuas, murais e ruas –, agora virou bebida. Em homenagem a quem? Só poderia ser a Juan Domingo Perón, sua mulher, Evita, e ao casal Nestor e Cristina Kirchner. O restaurante, para falar a verdade, já existia. Um dos sócios é militante peronista, como a foto reproduzida do Estado de São Paulo mostra.
Evita é uma “loira”; como a “Protetora os Humildes”, é leve, mas firme.
A 17 de Outubro, uma cerveja robusta que homenageia a data em que Perón foi libertado da prisão, em 1945, trata-se de uma cerveja forte e escura – uma referência à multidão de “cabecitas negras” (denominação dos mestiços do país, que, no passado, era uma expressão discriminatória… e até ofensiva, portanto, ideal para ser usada politicamente);
Montonera, uma “pale ale” com um toque de frutos patagônicos (o que não diz absolutamente nada), que dá um tom avermelhado revolucionário à bebida.
Ao que se saiba, na Patagônia não há um só fruto não-europeu, inclusive a esferinha escura chamada “calafate”, que, aqui, é chamada “mirtilo”, produzido e exportado pela cidade de Farroupilha. É da família das “berries”, muito comum na Inglaterra – por acaso, pátria dos primeiros colonizadores lá de baixo. Como a família é grande, esta é a “blueberry”.
Mas, na política, é sempre assim.
- Para arrematar, tem mais uma, a “doble” KK, em homenagem ao casal Kirchner, uma cerveja/scotch extraforte, com 7% de teor alcoólico e tons avermelhados. Narezo, seu criador, diz que ela é poderosa e carregada.
O restaurante Perón Perón tornou-se, desde sua inauguração, um dos principais centros de reunião da militância, além de ministros e secretários de Cristina.
Mas, como se sabe, boa parte dos argentinos não vive sem vinho, e, portanto, o panteão etílico peronista também conta com El Justicialista, cujo lançamento teve a presença do ministro da economia, Amado Boudou, vice-presidente eleito.
Os produtores do vinho afirmam que El Justicialista, produzido em Mendoza, tem um definido sabor de “militante popular”, mas, na realidade, é um “blend” sofisticado de Bonarda, Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Syrah, uma mistura, bem como a política argentina.