Há quatro semanas, li a manchete de um jovem pichador que despencou de vários andares, só por vaidade – vaidade de ver sua marca, seus garranchos mais altos que os dos outros. A imprensa não divulgou o seu nome e não se falou mais. Eu até tinha esquecido. Voltei ao assunto no feriadão. Fiquei consternado, mas, em breve, vamos receber turistas na nossa incivilidade.
A cidade está imunda, pichações por todos os cantos, atacada por quem não está nem aí para uma cidade prazeirosa, só fixado na vaidade de ver uns hieróglifos que só os seus próximos identificam. São pessoas que não têm idéia do valor do patrimônio coletivo, mas sabem que os fãs do futebol virão de qualquer maneira. Pessoalmente, acho que copas e olimpíadas são ótimos investimentos, trazem gente, lucro. Mas gostaria que isso acontecesse quando os moradores já tivessem água encanada, esgoto, escolas saudáveis e saúde – que, aliás, “está perto da excelência”, disse aquele presidente que hoje está no Sírio Libanês.
Portanto, se, pelo menos, conseguíssemos não sujar mais… Das outras mazelas espero que os futuros visitantes nem fiquem sabendo.
Mas, no feriado de quarta-feira, li, nas Cartas do Leitor, uma sugestão. O Sr. Paulo Antonio Tietê da Silva sugere que se faça um fundo para gratificar quem denunciar um pichador em flagrante, com as latinhas na mão. Ele acrescenta que os que rodam a cidade inteira, dia e noite, não ficariam indiferentes a este aumento no faturamento, e, para o pichador, até seria preferível, se ele lembrar do que estão fazendo em algumas cidades, como Roma e o Rio, onde eles seriam despidos e coloridos com seus próprios sprays.
Andar pela rua pelado e com o solvente dos sprays queimando as partes deve ser um inibidor fantástico para futuras pichações, quem sabe mais do que lembrar do jovem que despencou da sacada do quinto andar.
Além disso, como é que vão explicar em casa? E quanto tempo sem usar as partes pintadas?