Como assunto para bar e papos de viagem, a Islândia é inesgotável.
Os livros/guias podem explicar bem melhor do que eu. Só o que quero acrescentar é que a viagem é ótima, desde que você tenha espírito para este tipo de viagem. Se você prefere andar olhando vitrines e comprando lembrancinhas, informo: não há um só shopping; tudo é muito caro, e os discos da Bjorg já estão em todo o mundo. Portanto, se você não faz o gênero… vá a Miami.
Mesmo assim, por curiosidade, vou relatar as recomendações que recebi ao locar um automóvel e você vai entender tudo. Lembrei-me disso na serra, quatro ou cinco dias atrás, quando parreiras, pomares e hortifruti foram arrasados por granizo – o que, para nós, além de tragédia, é uma exceção. Na Islândia, é mais ou menos usual.
Na locação, no início eu estava sozinho e o atendente foi muito gentil. Ao ver o meu passaporte, olhou, examinou e depois disse: “É a primeira vez que atendo um brasileiro”.
Perguntou se eu tinha experiência, etc. Eu disse que sim, falei da minha trajetória automobilística, etc., mas frisei: “não em países como o seu”.
Entre outras coisas, disse-me: “Se você pegar uma tempestade de areia, pare em seguida. Elas costumam ser fortes. Proteja-se ao lado de uma casa, um corte de estrada, barranco, etc. Tenha cuidado em abrir a porta: ela pode virar ao contrário, etc., etc. Mas pare. Isso é importante. Se você continuar andando, a areia pode tirar a pintura do automóvel” E mostrou as fotos de um carro branco cuja frente e um lado estavam cinza (a cor do fundo), como se tivesse sido lixado.
Quando ele começou com o assunto granizo, por sorte chegaram a Kari e o Kai, o casal que foi conosco. São noruegueses, portanto conhecem o assunto e gostam de indiadas. Para que entendam, já estivemos juntos na Mongólia, na Patagônia, na Rota 66 e em Paris… que ninguém é de ferro.
Não fosse o Kai dizer de onde era, o atendente estenderia as explicações. E nós queríamos era sair país afora e satisfazer a nossa curiosidade.
Explicou também: “se começarem a cair pedras de gelo, como falei no início, você pode sair. Procure abrir o capô do motor e a tampa do porta-malas para que fiquem em 45º. Aqui estão os elásticos para atar um no outro. Isso evitará que as pedras danifiquem muito as duas partes.
Tire os tapetes dianteiros e traseiros e coloque sobre o teto do automóvel, embaixo dos elásticos que estão mantendo capô e a tampa do porta-malas. Isso protegerá o teto.”
Pois bem, os islandeses, com esse clima, solo vulcânico, sem árvores, ventos fortíssimos – que, às vezes, impedem que os barcos de pesca (sua única fonte de renda até pouco tempo atrás) saiam por 8 ou 10 dias –, passaram da pobreza ao padrão de país escandinavo em 50 anos, iniciando essa contagem no fim da Segunda Guerra, 1945.
Simplificando, hoje não há um só analfabeto. Todos falam mais de um idioma. O padrão de limpeza e cuidados com tudo chega a ser comovente. Patos em bando atravessam o que seria a nossa Beira-Rio tranquilamente para ir e voltar a um grande gramado, ou para voltar ao mar, sem que ninguém busine.
Preciso dizer algo mais? Acho que não, mas acrescento também que muitas ruas e calçadas são aquecidas por baixo para que o acúmulo de neve não dê trabalho.