O terço pendurado ao lado da cama é o companheiro insepáravel de Élinton. Aos 14 anos, portador do vírus HIV, ele não fala, não enxerga e não se mexe. Não esboça nenhuma reação física há quatro anos, desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Os funcionários e voluntários do Lar Recanto do Carinho, onde vive, são a sua família. Quando pequenino, de tão cativante chamou a atenção da top model Gisele Bünchen. Ela ficou encantada com o menino lourinho, de sorriso fácil, durante um visita ao local que atende crianças soropositivas.
Alguns acreditam que o jovem escute, apesar de viver há tanto tempo em estado vegetativo. Por isso, nunca deixaram de conversar na tentativa de confortá-lo. Há duas semanas, ele esteve internado no Hospital Infantil Joana de Gusmão com diagnóstico de pneumonia. Os médicos, logicamente, chegaram a descartar a possibilidade dele sobreviver. Os sinais vitais praticamente tinham desaparecido. Mas Élinton não se entregou. Para surpresa de muitos, conseguiu respirar sem a ajuda de aparelhos, a febre baixou, teve alta e retornou ao lar.
O que não falta para ele no Recanto são dedicação e carinho. A dificuldade, hoje, é dispor de recursos para pagar uma pessoa para atendê-lo com exclusividade, já que precisa de cuidados mais do que especiais. Situação idêntica à vivida por outros adolescentes, que também sofrem de uma série de complicações de saúde, além de estarem na fase da ebulição dos hormônios. As crianças cresceram. E os problemas aumentaram na mesma proporção. Dos 45 jovens que vivem lá, 13 já têm mais de 12 anos, sendo 10 são meninas.
Só que a ONG vive a síndrome das entidades assistenciais brasileiras: a do cobertor curto. O repasse das verbas públicas cobre só 30% das despesas. Se fosse dividido entre as crianças e adolescentes, cada um deles receberia dos cofres públicos R$ 0,78 por dia. O que salva são as doações e a habilidade da direção e funcionários em driblar as carências. Como priorizam alimentação, remédios e vestuário, as obras de manutenção ficam para depois. Resultado: portas carcomidas pelos cupins, fiação elétrica velha, telhas quebradas e infiltrações e goteiras por todos os lados.
Apesar de todas as dificuldades, o que surpreende, logo ao pisar no Recanto, é que nada parece abalar aquele pequeno universo. O grupo de 25 funcionários e cerca de 30 voluntários trata dos bebês aos adolescentes como uma grande família. Encara a falta de dinheiro, de apoio e até do eventual preconceito contra as crianças sempre de cabeça erguida, com um sorriso no rosto e confiantes de que a vida é uma batalha, mas que pode ser vencida. Da mesma forma que Élinton lhes ensina, diariamente. Para ajudar, ligue (48) 3228-0024