A resposta da polícia aos mais de 114 atentados confirmados em Santa Catarina foi eficiente, se considerarmos a grande dificuldade de, respeitando-se o Estado de Direito vigente nas democracias, fazer-se frente às técnicas de guerrilha urbana usadas pelas facções criminosas. Mais de 100 pessoas foram presas (88 delas denunciadas pelo Ministério Público) e 40 lideranças transferidas para presídios federais. Os ataques coordenados pelas facções perderam intensidade, frequência e agressividade e, hoje, os raros incêndios em veículos confundem-se, aqui e ali, com atos de vandalismo e anarquia. A paz retornou e irá perdurar? Dependerá das ações governamentais atuais e futuras.
As organizações criminosas se instalaram nos presídios brasileiros como metástases do famoso Comando Vermelho, nome que homenageia a guerrilha maoísta da esquerda armada, derrotada nos anos 70, cujos poucos sobreviventes foram aprisionados na Ilha Grande, onde instruíram e inspiraram bandidos perigosos que lá cumpriam penas diversas.
O combustível responsável por sua capilaridade e durabilidade é a ausência ou ineficácia das políticas públicas, pois nossos governantes nunca tiveram um olhar verdadeiro para os apenados. Investir na população carcerária não rende dividendos eleitorais. E nós, eleitores livres, que detemos a prerrogativa de mudarmos as coisas, queremos, mesmo, é trancá-los lá e jogar fora a chave.
A sobrevivência dessas organizações criminosas e boa parte de seu poderio bélico depende da venda de drogas, dentro e fora dos presídios. Com o dinheiro arrecadado, compram privilégios para os líderes das facções e seus apaniguados, recarregam as baterias de seus celulares e corrompem, ameaçam e mandam punir e executar desafetos e opositores, coordenando essas ações do lado de dentro das grades. Num presídio onde essas facções são atuantes quem se alia ao lado do mais forte tem mais conforto, dorme em colchonetes, longe do “boi” (latrina), fuma maconha e é deixado em paz pelos provocadores.
Os ataques irão terminar, em definitivo? Não. A não ser que, por milagre, seja semeado todo o terreno infértil que propiciou o surgimento dessas facções. O tempo está a favor delas. O relógio se aproxima inexoravelmente dos Grandes Eventos vindouros, produtos do “cometa do esporte” cuja órbita passará sobre o Brasil a partir de junho deste ano. É esse o palanque contra o qual as organizações criminosas querem emparedar os governos, exigindo, ainda que por meios criminosos e parvos, investimentos em políticas carcerárias perenes. Imaginem as consequências dos ataques alguns dias antes e durante os jogos? Mesmo em cidades que não serão sedes? No mundo instantâneo da comunicação, tanto faz ser sede ou não. A sensação de insegurança teria efeito devastador nos negócios, na imagem do país e no moral nacional.
Essa é a soma de todos os medos.
Eugênio Moretzsohn
Especialista em Inteligência e Segurança