Caro Martini:
Sempre nutri grande admiração e respeito pela Imprensa. Por ter vivido, como acadêmico de Jornalismo, os tempos severos da Ditadura (1968), posso imaginar o conforto dos profissionais da mídia diante da profusão de liberdade que a ordem jurídica e política hoje ampara e estimula.
Isso, porém, não os exime - suponho – do compromisso com a verdade nem os autoriza ao manejo da tergiversação.
Veja bem, meu caro Martini. Na edição de 19.3.13, o DC publicou parte de uma entrevista que concedi, na qual, respondendo indagação sobre os “questionamentos morais” do auxílio-moradia, ponderei: “O auxílio-moradia, apesar da impropriedade do nome, foi inventado pelo então presidente do STF por volta do ano 2000, como forma de recompor a perda salarial dos magistrados. Persiste até hoje, pelas mesmas razões, já que há vários anos os subsídios não são reajustados conforme a Constituição. É sob esse prisma que o componente ético precisa ser examinado.” Estas foram, textualmente, as minhas palavras. E, para complementar a informação: o presidente do STF à época era Nelson Jobim.
Ele inventou o auxílio-moradia e, a partir daí, Judiciário, Legislativo, Tribunais de Contas, Ministério Público incorporaram o benefício nas respectivas legislações e ninguém mais “largou o osso”.
Particularmente, não aplaudo a solução. Nem censuro a crítica que, sob o aspecto moral, lhe possa ser feita. Mas foi nesse cenário, fruto do empurrão dado pela mais alta autoridade da Justiça do país, que nasceu o auxílio-moradia. Não teria condições agora, rapidamente, de refazer os cálculos. Mas duvido que, tanto hoje quanto outrora, haja ou tenha havido diferença sustancial entre o valor do benefício e o da defasagem salarial medida pelos índices oficiais da inflação – que deveria ter sido corrigida, por imperativo constitucional, e não foi. Isso parece importante, notadamente quando nos aventuramos a emitir qualquer tipo de juízo sobre o assunto.
Surpreendeu-me, por isso, o que li hoje na sua coluna, sob o título “PUXADINHA NO HOLERITE”, onde você escreveu:
“Interessante a resposta de José Galvani Neto, procurador-geral em exercício, sobre os questionamentos morais feitos em relação ao reajuste do auxílio-moradia na edição de ontem do DC. Disse ele: ‘Os subsídios servem como forma de recompor a perda salarial e persistem até hoje pelas mesmas razões. É sob este prisma que o componente ético precisa ser examinado’”.
Convenhamos: além de você ter me atribuído uma nova identidade, transformando José Galvani Alberton em José Galvani Neto, há uma abissal diferença entre o que eu realmente disse e as palavras que você me colocou na boca.
Tudo bem. Você é um jornalista respeitado (eu, pessoalmente, muito o respeito), titular de uma coluna séria, assiduamente frequentada pelos leitores e trabalha para um grupo empresarial que, a rigor, detém o monopólio da informação no Estado. Tem todo o direito de informar, criticar e até ironizar. Tenho dúvida, porém, se, no contexto desses direitos, estaria incluído o de subverter o conteúdo da verdade ou de declaração expressa de quem quer que seja. Sou obrigado a crer que a mesma ética que a Imprensa costuma cobrar dos órgãos e agentes públicos sirva também para orientá-la no cumprimento do seu dever institucional de informação.
Não tenho razões para duvidar da sua grandeza profissional e pessoal. Seria confortadora, portanto, a correção da nota hoje publicada, espontaneamente.
Fraterno abraço
José Galvani Alberton