
Foto: Charles Guerra, Agência RBS
As imagens da estrutura corroída pela ação do tempo, apesar dos R$ 563 milhões já contratados na recuperação da Hercílio Luz, ganharam contornos de escândalo nas redes sociais. Ninguém suporta mais a ideia de dinheiro público escorrendo pelo ralo por conta da má gestão, para dizer o mínimo. O bombardeio de notícias do Petrolão e da Lava-Jato esgotou qualquer limite de paciência do cidadão.
A diferença é que o imbróglio da ponte está ali, ao alcance dos olhos. Um monumento ao desperdício como bem definiu o procurador Diogo Ringenberg, do Ministério Público do Tribunal de Contas do Estado.
A cada 10 comentários Facebook, nove defendem que se coloque tudo abaixo e se construa uma nova, com tecnologia do século 21. Claro que é apenas uma amostra sem qualquer base científica, mas não dá para negar que traduz o momento de indignação de boa parte da sociedade catarinense em relação aos 33 anos de interdição. E ainda correndo risco maior de colapso do que nos anos 1980.
Deinfra garante que obras de sustentação da ponte Hercílio Luz serão concluídas no prazo
Mesmo contestada, governo insiste na reforma da ponte Hercílio Luz
No Centro Administrativo, a repercussão foi protocolar: o governador não fala porque o assunto não está na ordem do dia. O secretário de Infraestrutura passa a batata quente para o Deinfra, que, por sua vez, dá o play na resposta padrão: estamos trabalhando.
O governo só não admite o que já é voz corrente nas internas. Jogou a toalha na esperança de que os norte-americanos da American Bridge assumam a recuperação. Para eles, não tem conversa: ponte é para ligar um ponto ao outro. Se estiver velha e com risco de cair, faça uma nova no lugar. Simples assim. Disseram isso para Luiz Henrique em 2005. Repetiram para Colombo em 2015.
A ponte Hercílio Luz é tombada como patrimônio por decreto – municipal, estadual e federal. Um senhor entrave legal para levar adiante a ideia da demolição. Outro item que precisa ser levado em consideração atualmente é que nos últimos seis meses a obra das quatro torres de sustentação andou no prazo previsto. Hoje, a imagem da velha senhora, ao menos durante o dia, mais parece um monte de ferro (foto). Somente à noite dá para lembrar que se trata do principal cartão-postal do Estado.
Na opinião de especialistas ouvidos pela coluna, seria uma temeridade recuar justo no momento em que se está prestes a concluir a montagem da base para a ponte segura. A dúvida é como concluir o trabalho com pouco dinheiro e a crescente pressão da sociedade por mais eficiência. Com o perdão do trocadilho, se correr o bicho pega, se ficar a ponte cai!
E agora, João?
Enquanto isso
O deputado Leonel Pavan (PSDB) perdeu a oportunidade de ficar calado. Em plenário, tentou classificar os gastos de mais de R$ 500 milhões na ponte como troco em relação aos desvios do PT em Brasília. Em números absolutos tem razão, mas seria bom lembrar que foi um dos que teve a caneta na mão como governador e a ponte está aí desse jeito.
Aliás
Deputado João Amin (PP), filho do ex-governador e deputado federal Esperidião Amin, foi à tribuna para criticar o descaso com a ponte. Um exemplo de maturidade e independência política.
Nem pizza
Deputado Dirceu Dresch (PT) propôs ano passado a instalação de uma CPI na Assembleia sobre a ponte Hercílio Luz. Obteve apenas sete das 14 assinaturas necessárias para que o pedido tramitasse na Casa. Diante da esmagadora base governista entre os 40 parlamentares, a ideia é apresentar oficialmente o relatório do Ministério Público de Contas ao Ministério Público Estadual e Federal.
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