Senhoras e senhores torcenautas, este blog, orgulhosamente, apresenta… (rufar de tambores) um texto exclusivo de dois colorados ilustres: o poeta Fabrício Carpinejar e o psicanalista Mário Corso, ambos escritores. Deliciem-se:
A janela é uma porta escancarada
O Estádio Beira-Rio é um aeroporto. Ou um terminal rodoviário, como a Editoria de Esportes avisou. O placar deveria informar os horários das conexões. Ou, quem sabe, um SPA para recuperar a forma física na entressafra dos campeonatos estrangeiros.
São cantadas as promessas do presidente, do diretor de futebol, dos próprios jogadores de que sequer um titular será vendido. Não têm firma reconhecida. Fernandão confessou que não sairia, e voou logo depois de suas palavras. O mesmo acontecerá a todos que empregam a equipe como plataforma de embarque.
Com o peso argentino baixo, servimos de entreporto dos hermanos para destinos mais distantes. Mal um jogador se destaca e é cogitado para a seleção brasileira dos imigrantes. Nem precisa de uma temporada inteira para mostrar seu rendimento. Bastam 90 minutos e, no próximo jogo, será atordoado por interesses de clubes, especulações de seus passes, cocheira com empresários e distrações alheias ao lugar na tabela. Nossos filhos recém começaram a colecionar o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro, e o plantel está antigo e defasado, com cinco jogadores negociados.
A janela de contratações das equipes do Exterior é uma porta escancarada. Uma verdadeira janela do desgosto. A fugacidade dos relacionamentos entrou de salto alto no gramado. Mudou a relação do torcedor com seu time de coração. Está difícil de namorar, muito menos casar. São os “ficantes” da bola. Um dia com um, outro dia com outro, descartada a relação estável. Falcão ou Pelé ou Sócrates ou Zico que passaram praticamente a vida inteira num único time são recordações dos bisavôs. Não existe mais alma monogâmica no futebol.
Nossas sugestões para o novo momento:
Torcedor colorado, não se apaixone, não se apegue a seu ídolo. Futebol hoje é coisa muito séria para se deixar levar pelas emoções. Não insista, são as realidades do mercado. Sonhe por jogadores esforçados, mas medianos, que ninguém deseja comprar. Melhor uma equipe de pernas-de-pau que fique do que uma de craques que passam. O que adianta casar com a Gisele Bündchen se ela vai embora durante a lua-de-mel?
Dirigentes, troquem na sigla o C por A, ficaria Internacional S.A. Fica mais direto, mais verdadeiro. E abram o capital para sócios investidores, queremos ações ao portador para acompanhar seu ritmo na bolsa, já que no campo…”
O grande problema brasileiro é que a gente teima em não aprender. Levam nossas madeiras nobres e nos devolvem móveis de luxo. Pirateiam nossos minerais preciosos e nos repassam componentes de computador. Vai o nosso café bom e fica a borra. Importam nossos melhores cérebros e nos cobram caro por tecnologias por eles desenvolvidas. O futebol brasileiro é praticado neste mesmo Brasil, amigos. Por que seria diferente?
Postado por Wianey
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