Poucas coisas me irritam tanto quanto a repetição monótona e descabida de que o futebol brasileiro e os clubes são desorganizados. Deve ser efeito da nossa crônica mania de autocomiseração. Ainda não atingimos a perfeição. Talvez seja objetivo inalcançável. Mas a nossa situação é tão boa quanto a dos países mais desenvolvidos do mundo.
O nosso calendário tornou-se permanente faz tempo. Campeonatos estaduais, Copa do Brasil e Libertadores da América no primeiro semestre; Campeonato Brasileiro e Copa Sul-Americana no segundo. Regras fixas, carnês anunciados com larga antecipação, cumprimento dos regulamentos e datas dos jogos. Tudo tem funcionado satisfatoriamente nos últimos anos.
Os clubes, com exceção dos cariocas, como sempre souberam adaptar-se aos novos e globalizantes tempos. Alguns, inevitável, começam a acusar os efeitos da crise econômica mundial. Mas, deles, quem está escapando?
Tomemos Grêmio e Inter como exemplos. Os dois clubes estão providenciando casa nova. Dentro de pouco tempo, Porto Alegre terá os dois melhores e mais modernos estádios de futebol do Brasil. Particulares, acrescente-se esse mérito.
Nenhum outro clube brasileiro possui quadro social mais numeroso do que Inter e Grêmio. O Inter, inclusive, já é líder das Américas entre os clubes de futebol com maior número de sócios, condição que o coloca entre os mais destacados clubes do planeta.
Sócio da Dupla já não precisa enfrentar longas filas para adquirir ingresso. Por telefone ou pela internet, ele valida o seu cartão de associado e está apto a desfrutar o próximo jogo do seu time. Tenho um amigo que costuma habilitar o seu cartão quando já está se dirigindo para o estádio. Não perde jogo. No estádio, as catracas eletrônicas funcionam bem. É passar o cartão e entrar. Acabou o tempo dos ingressos falsificados.
Mas, ser brasileiro é não gostar do que brasileiro faz. Esta, lamentavelmente, parece ser uma regra indestrutível. Ou, no mínimo, adoramos generalizar por baixo. Se os clubes cariocas não se organizam e, por conseqüência, atrasam o pagamento de salários, o futebol brasileiro é desorganizado. Na verdade, bagunçados são os clubes do Rio. Como formam poucos jogadores, não desfrutam dessa fonte de receita. Como não investem nos seus associados, até porque nunca se dedicaram a construir os seus próprios estádios — os que existem são verdadeiras taperas — também não se beneficiam de boa receita social. Mas, esse é um problema tipicamente carioca. Não é do futebol brasileiro.
Por mais que custe ao brasileiro admitir que vai bem em determinado setor, é preciso admitir que no futebol o quadro é satisfatório. Quem duvidar, pesquise e descubra quantas empresas brasileiras são centenárias. Pouquíssimas, garanto. Se é que existem. No futebol, um grande número de clubes já ultrapassou a marca dos cem anos e muitos dela se aproximam. Tal longevidade seria impossível sem um mínimo de organização.
Postado por Wianey
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