Inconformado com a absolvição dos 10 torcedores indiciados pela queima dos banheiros químicos naquele Gre-Nal realizado no Beira-Rio, saí em busca de explicações para o fato que me parecia inexplicável.
O episódio acontecera à luz do dia, em um estádio de futebol, diante de milhares de pessoas e dezenas de câmeras de televisão. Como pôde a Justiça, em duas instâncias, concluir pela falta de provas para condenar os transgressores? Na edição de Zero Hora do próximo domingo, em matéria assinada pelos meus colegas Carlos Guilherme Ferreira e Diogo Olivier, tudo fica esclarecido.
Eu já vinha conversando com Ricardo Herbstrith, promotor que atuara no caso e que, tanto como eu, ficara perplexo com as absolvições. Disse-me que anexara na denúncia fotos e vídeos que mostravam, claramente, os protagonistas daquela barbaridade. Mesmo assim, em primeira e segunda instância, a Justiça concluiu pela impossibilidade de identificar os transgressores. Impossível, pensei, com tantas imagens disponíveis. O Rio Grande do Sul saberá, agora, como a Justiça tratou o assunto.
Em primeira instância, o caso foi julgado pela juíza Kátia Elenise. Na segunda instância, o processo foi relatado pelo desembargador Gaspar Marques Martins. E agora, a explicação para a absolvição: NAS DUAS INSTÂNCIAS, OS VÍDEOS NÃO FORAM APRECIADOS PELOS JULGADORES. É isso mesmo! O trabalho de Herbstrith foi totalmente inutilizado pela desconsideração com que foram contempladas as provas. Martins informa que não recebeu os vídeos. Mistério. Onde foram parar?
— Os vídeos faziam parte do processo desde o inquérito policial e eram prova cabal e fundamental — declara Ricardo Herbstrith, levantando uma dúvida crucial: onde foram parar estes vídeos? Esta pergunta exige resposta.
Aquele caso era emblemático. Depois daqueles vergonhosos acontecimentos, já tivemos mortes entre torcedores, atentados, agressões etc. A impunidade é estímulo poderoso, deveríamos saber todos: jornalistas, dirigentes, juízes etc.
Sei que as mesas de juízes e desembargadores estão lotadas de processos. Faltam-lhes tempo e meios para que possam apreciar com mais vagar tudo o que devem julgar. Mas, neste caso, infelizmente, era imprescindível que houvesse mais cuidado no julgamento.
É minha convicção pétrea: um Poder Executivo ineficiente eu posso suportar, pois nas eleições seguintes posso mudá-lo, pelo voto. Vale, também, para o Poder Legislativo. Com relação ao Poder Judiciário, porém, é diferente. Nele eu preciso confiar, cegamente, pois somente ele pode me garantir uma convivência social civilizada. E quando o Judiciário falha como, infelizmente, falhou neste caso, eu afundo em frustração e temores. Depois dele, a que instância eu posso recorrer para que sejam respeitados os meus direitos?
Termino reiterando o meu profundo e reverencial respeito pelos homens que representam o nosso Judiciário. Falharam, são humanos, mas devem admitir o erro para não repeti-lo.
Cumprimento, também, o promotor Ricardo Herbstrith, cujo trabalho, lamentavelmente, não recebeu a devida consideração. Por fim, meus respeitosos agradecimentos à Brigada Militar, que tenta garantir paz e segurança nos estádios.
Postado por Wianey
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