Engana-se quem pensa que me diverte esta discussão envolvendo o escritor Eduardo Bueno, Peninha, Carlos Simon, árbitro, e agora as esposas de ambos. No sábado, quando publiquei a sentença judicial e fiz dulcíssimas observações a respeito do tema, imaginava estar, apenas, cumprindo a minha tarefa profissional de informar um fato que, a meu juízo, tinha largo interesse público por envolver pessoas importantes e que cabia, perfeitamente, nos meus espaços esportivos.
Os acontecimentos que se sucederam à publicação acabaram atropelando as minhas intenções iniciais. Desde domingo, tenho dedicado mais de quatro horas diárias para ler e-mails e analisar comentários de leitores e internautas que escrevem abordando o assunto. Infelizmente, não tenho podido oferecer a estas correspondências a atenção que merecem. Até porque, a minha caixa de e-mails tem capacidade limitada.
O diabo é que, sem querer, acabei cometendo uma injustiça com a esposa do Peninha, Paula Taitelbaum. Ela fez a gentileza de me enviar um correspondência alentada, dirigindo-se a Cátia Simon, esposa de Carlos Simon, e um resumo deste e-mail.
A primeira para ser postada neste blog e a segunda para a minha coluna, em Zero Hora. Acontece que acabei postando no blog a correspondência que se destinava ao jornal impresso e aquela que estava destinada ao blog foi carregada pelo vendaval que levou outras centenas de e-mails. Peço desculpas a Paula e aos internautas e para que não haja desigualdade na concessão dos espaços, publico agora, já noite fechada desta quinta-feira, a correspondência da Paula:
“Wianey Carlet,
Acabo de ler a carta da Sra. Simon em defesa de seu esposo, dando continuidade à questão que o senhor parece estar tão interessado. Eu não pretendia escrever nada em defesa de Eduardo – e nem ele precisa que eu o faça (aliás, ele sabe escrever sozinho). Mas minha profunda indignação ao ler a manifestação pública da Sra. Simon não mais permite que eu me cale (uma coisa seria essa carta ter ficado no âmbito privado, outra coisa é ela ser divulgada em um blog), pois profissional honrado, qualificado e respeitado, que eu saiba, é Eduardo Bueno, por sinal, meu marido.
Surrupiar é o mesmo que roubar? Sim, no sentido literal sabemos todos que o é. Mas, Sra. Simon, por favor, todos nós também sabemos que essa palavra possui um sentido mais leve e mais lúdico. Possui menos “peso”, se é que me entende. Ou será que está faltando bom humor na sua vida? Ou será que está faltando outra coisa? Ou será que está faltando alguma coisa para a senhora fazer?
A sensação que tenho é que a senhora é que desrespeita o leitor ao achar que ele não pode tirar suas próprias conclusões a partir do que foi escrito. Não tenho dúvida de que a rotina do seu marido é exemplar (não sou totalmente a favor de rotinas, mas vá lá, cada um com seus problemas). E a questão aqui não é essa. E nem a dedicação dele à sua profissão, dedicação essa que, aliás, ninguém nunca colocou em dúvida. O que se discute no momento, e só se discute porque a questão veio a público, é a atuação do seu marido no campo. A senhora assiste aos jogos? Eu assisto. Eu acompanho. Eu torço. E mesmo torcendo pelo Grêmio – provavelmente time que não é o seu – tenho certeza, e quem me conhece sabe, que sei ser imparcial e avaliar o que é erro, o que é descuido, o que é artimanha. E tenho visto muitas.
Já diz o ditado: errar é humano, persistir no erro é burrice. E defender o erro, seria o quê? Não sou juíza, não posso avaliar… Acho, no entanto, que quem se diz perfeccionista muitas vezes não admite – e nem acredita – que está errando. E erra mais, e insiste no erro, e justifica o erro, e finge que não erra. Não seria mais humano admiti-lo? Ou somente quando é preciso fazê-lo para não ser multado, como alguns juízes que conhecemos bem (a senhora melhor ainda)?
Também não acho correto que a senhora venha se valer de espaços públicos – mesmo que de pouca repercussão – para, achincalhar (adorei essa palavra!) o nome de Eduardo Bueno, autor que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares, que escreveu 25 livros, que traduziu outros 22, que ficou meses no topo da lista dos mais vendidos, que é duplamente comendador, que ganhou a ordem do Mérito Cultural das mãos do Presidente Lula, que ganhou o prêmio Jabuti (a mais alta condecoração literária do Brasil), que é respeitado não apenas no Brasil como em Portugal, Espanha e Estados Unidos, onde seus livros já foram publicados.
Por que Eduardo não escreve um livro falando sobre os erros de médicos, advogados, jornalistas e políticos, pergunta a senhora. Primeiro, porque nenhum deles o atingiu diretamente. Segundo, porque nenhum o processou, Sra. Simon. E por falar em processo, se o Sr. Simon é tão respeitado e coroado como a senhora mesmo escreve, do que ele tem medo? De que ele tem dúvida? A família está precisando de dinheiro? Não teria sido melhor deixar o “surrupiar” quieto, já que a maioria dos leitores de Grêmio Pode Ser Maior é gremista e vai continuar concordando com a dita frase? Será mesmo que o Sr. Simon sentiu-se tão ofendido ou ele apenas quis dar mais uma “lição” aos gremistas? Deixo que os leitores façam seu julgamento. Não os menosprezo.
Eduardo é desequilibrado? Posso assegurar que não. Passional, sim. Exagerado, talvez. Todos sabem disso. E sabem também do seu estilo bem humorado, histriônico, nada comedido. Todos, menos o Sr. Simon. Aliás, ainda não descobri bem o que ele sabe. Apitar?
A senhora questiona o respeito à decisão da Justiça. Desde que não seja a de futebol, escancaradamente parcial, Eduardo com certeza a tem. Tanto é que escreveu um livro sobre as origens da corrupção no judiciário brasileiro. A senhora leu? Deveria… Além disso, em nenhum momento, desde que a sentença saiu, ele se negou a pagá-la. Nem recorrer ele quer. Prefere pagar. Acha que vocês talvez possam estar precisando.
Eduardo não representa a totalidade de torcedores do Grêmio? Realmente, talvez não seja 100%, quem sabe então 99%. Eduardo presta um desserviço ao futebol? Por favor, Sra. Simon, desserviço ao futebol prestam os que são responsáveis por freqüentes e constantes erros de arbitragem, por resultados injustos, por corações de torcedores injustamente partidos (seja de brasileiros, seja de ganenses). E ódio, muito ódio, isso traz aos que realmente amam um time. Escrever um livro, expor sua opinião, ter coragem de oferecer a sua versão, isso não é um desserviço. Ao contrário, é um favor.
Fico feliz – e bastante surpresa – em saber que o Sr. Simon escreveu um livro e recebeu um “troféu” por isso. Também sou escritora, tenho cinco livros publicados e, sinceramente, nunca ouvi falar nessa obra do Sr. Simon. Mas, quem sabe então, já que a publicação fez tanto sucesso (coisa que, acho, está bem claro que ele valoriza) aproveito para sugerir que o senhor seu marido tente virar escritor e abandone, para o bem dos torcedores gremistas e felicidade geral das nações, o seu apito.
Obrigada,
Paula Taitelbaum”
Agradeço a gentileza da correspondência da dona Paula e divulgo-a, ainda que “neste espaço público de pouca repercussão”, zerohora.com e Jornal Zero Hora. É o que, humildemente, posso oferecer.
Postado por Wianey
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