Breve e atual historia do cotidiano. O rapaz é jovem e viciado em crack. Tem apenas 28 anos. Arrasta-se mais do que caminha. Definha como um planta sem água. Está com os dias contados. Vive por aí, simplesmente. Às vezes aparece na casa dos pais. Ambos de idade avançada, saúde frágil.
Quando ele aparece, o mundo desaba sobre aquele lar. Busca dinheiro e se não obtém, agride os velhinhos. Ainda matará, se não morrer primeiro. O capítulo final da sua história está escrito. O amor dos pais transformou-se em desesperado desejo de morte. Deles ou do filho. Única saída para o descanso que a idade exige. Conheço os personagens desta história. História comum aos nossos dias. Aonde passa o crack não viceja a vida.
Em 1970, o Brasil cantava “Noventa milhões em ação”, lembram? Era o tricampeonato mundial de futebol. Nestes quase 40 anos, os noventa milhões de habitantes duplicaram. Mais de 90 milhões de brasileiros nasceram neste período. E as vagas de trabalho, formal e informal, só aumentaram em 40%, segundo levantamento do IBGE. Significa que existem cerca de 50 milhões de brasileiros com 40 anos, aproximadamente, fora do mercado de trabalho. Vender drogas passou a ser uma saída. Dá bom lucro. Com a trágica “vantagem” de que, neste ramo, ninguém envelhece. Traficantes e consumidores morrem antes de a velhice chegar.
Faltam trabalho, desenvolvimento, perspectivas…
O Brasil não consegue crescer na mesma proporção em que aumenta a sua população. E esta explosão demográfica se dá exatamente nas camadas sociais mais desassistidas. Um garotinho brincando sobre o esgoto que corre nas favelas terá dificuldades monstruosas para se transformar em um adulto produtivo e cidadão. Em contrapartida, será alvo desprotegido da sedução que emana das drogas. Essa criança provavelmente se transformará em um viciado, traficante e ou um bandido cruel. Previsão realista, nenhum preconceito. Mas, vá falar em controle da natalidade. Será excomunhão certa e reação inconformada de ONGS e teóricos acostumados a desfrutar vinhos caros e vida boa.
O crack, mais do que droga, é veneno mortífero. Basta uma tragada, apenas para se impor a dependência. Eu escrevi “uma tragada”e o incauto estará marcando encontro com a morte. Pior do que o crack, só a merla, que é o sucedâneo do crack. Ainda mais letal.
Estima-se que existam cerca de 50 mil viciados em crack no Rio Grande do Sul. Destes, não mais do que 3% sobreviverão. Morrerão quase todos, rapidamente. Mas, antes que morram, muitos roubarão e alguns até matarão para conseguir a droga. Eu, você, nós poderemos ser as vítimas desta loucura.
Calcula-se que dentro de três anos serão 300 mil viciados. Em 10 anos, mais de um milhão. A campanha da RBS Crack, Nem Pensar observa dois objetivos: alertar para esta pandemia e contribuir para conter o avanço da droga. Esta é uma tarefa de todos: impedir que siga aumentando assustadoramente o número de viciados. Vamos nessa?
Postado por Wianey Carlet
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