Desde que o quadro social do Internacional ultrapassou a capacidade do Beira-Rio, o jogo contra o Corinthians, primeiro de julho, será a primeira decisão destes novos tempos. Seria surpreendente se não ocorressem muitos problemas. Ontem, centenas de e-mails chegaram as redações contendo irritadas reclamações de colorados que não conseguiram bilhete para a decisão. A correspondência que publico, a seguir, é apenas uma, entre tantas:
“Wianey,
Deves estar acompanhando toda a polêmica que se criou nesta segunda-feira em função do rápido esgotamento dos ingressos para a final da Copa do Brasil. Há torcedores ditos “fiéis”, que vão a todos os jogos e ficaram sem ingresso para os jogos. Há aqueles “ocasionais”, que se frustraram por achar que iriam usufruir do benefício de serem sócios e não conseguiram. Há os “darwinistas”, que acreditam que os mais persistentes e rápidos nunca ficam sem ingressos. Tem ainda a “velha guarda”, os sócios da modalidade antiga que acham que todos os torcedores que vem depois deles são de “modinha” e tem que se contentar com as sobras, pois não eram sócios do clube nos tempos ruins e agora querem “tirar proveito”. E tem os que observam, não entram na discussão.
Obter consenso no meio da paixão futebolística, sabes mais do que eu, é tarefa ingrata. Entretanto, no meio de todo esse bate-boca que se formou, mais me chama atenção uma quase omissão da administração do clube em relação ao evento. Parece assim que estão esperando que os torcedores “com ingresso” acalmem os furiosos que não obtiveram passe, seja com argumentos ou xingamentos. E que está tudo bem, que é normal, pois “na Europa é assim”.
Ora, não sei se pensam que todo torcedor de futebol é ignorante. Sobretudo os colorados, do “clube do povo”. Mas me soa quase ofensivo um profissional de marketing gabaritado como o Avancini se utilizar de subterfúgios do tipo Cirque de Soleil para justificar este episódio.
Tivemos um problema sério em canais de distribuição online que deveriam ter alta disponibilidade mas não tiveram. Desabaram ambos, Ingresso.com e Portal de Voz. Vai ter quem diga que conseguiu comprar por esses canais? Óbvio que sim. Enquanto os sistemas estavam instáveis, muitos conseguiram mas outros tantos não, mesmo no início da manhã. Basta verificar depoimentos no Orkut. Isso é problema de infraestrutura de TI, não tem nada a ver com o Cirque de Soleil.
Com canais online debilitados, restavam as velhas bilheterias. Pois a essa altura, a venda nas lojas Blockbuster já tinham caído também, por dependerem dos mesmos sistemas. Não sei se isso é verdade, mas vi gente comentando na loja da Carlos Gomes que durante a manhã inteira eles conseguiram fazer duas transações somente. Exageros à parte, toda a comodidade e conveniência prometida para aqueles que tem mais o que fazer da vida e não tem tempo para ficar uma manhã inteira na fila da bilheteria simplesmente foi pelos ares.
Tudo isso por causa de quê? De uma coisa básica que tanto se cobra do torcedor mas que o clube esqueceu num momento tão importante: fidelidade. Se havia somente 14 mil ingressos e a confirmação de presença para os sócios da modalidade antiga é um projeto para 2024, bastava a administração ter um pouco dessa fidelidade juntamente com quem é mais fiel, aqueles que não perdem nem jogo contra o Avaí com vento minuano tinindo nos ouvidos.
Bastava que se selecionasse no cadastro de sócios da nova modalidade os 14 mil mais assiduos nos últimos seis meses, por exemplo, e lhes oferecesse os ingressos com 48h horas de antecedência em relação aos demais. Nada mais do que isso. A administração tem os dados de todos os associados, o histórico de presença nos jogos, tem o número de celular, o e-mail. Precisa do quê então?
Eu sei que é mais fácil jogar os 14 mil ingressos ao vento e deixar que a seleção natural faça a sua parte. Afinal, o clube vai faturar de qualquer jeito. O “produto futebol” do Internacional é hoje o melhor do Brasil. Mas o mundo da bola dá muitas voltas, nós colorados sabemos disso. E manter 100 mil sócios a longo prazo é bem mais difícil do que chegar aos 100 mil no vácuo dos bons resultados dentro do campo. O Inter não precisa de um estádio para todos os seus sócios. Mas precisa ser mais justo com quem lhe é fiel e que pode ser fundamental para que nunca mais haja um cofre vazio no Beira-Rio, como já nos aconteceu pouco tempo atrás. Pois épocas de crises e farturas vem e vão em ciclos, ainda mais na volátil indústria do futebol.
Fica a mensagem para tua reflexão, como formador de opinião. Se quiseres passar adiante, fica à vontade.
Abraço,
Marcelo Morem”
Entre os colorados que estão distantes, destaco o e-mail que chega do Canadá:
“Prezado Wianey,
Peço desculpas por entrar em contato com algo que não tem relação contigo diretamente, mas, sendo teu fã, considero que o que tem a ver com o futebol gaucho tem a ver contigo tb.
Eu sou Cardiologista aqui no Canada e o Consul do Inter em Montreal e já estava com as passagens compradas pra ir a Porto Alegre na semana da final da Copa do Brasil, quando vi hoje no ClicRBS que não ha mais ingressos pra sócios Campeões do Mundo.
Será possível que eu consegui assistir a final do Inter em Yokohama em 2006, mas vai ser mais difícil (impossível?) fazer isso em Porto Alegre?
Já escrevi ao Inter perguntando se existe alguma solução, mas queria saber tua opinião (e sugestão, se sabes de alguma solução).
Um grande abraço e parabéns pelo trabalho.
Marcio Sturmer,
Cônsul do Inter, Montreal, Canadá”.
Lamentavelmente, não tenho solução para oferecer. Este jogo caracteriza um evento especial, que foge aos padrões normais de espetáculos esportivos. Concordo, entretanto, que o Internacional deveria ter informado, antecipadamnente, os critérios que seriam utilizados na destinação dos ingressos.
Quanto às dificuldades de compra pela Internet, creio ser possível compreender que muitas pessoas tentando acessar o mesmo endereço, simultaneamente, seja problema de improvável solução. Acontece, todos os anos, na hora de apresentar a declaração de rendimentos para a Receita Federal. Nas últimas horas, o acesso fica impossível. Espera-se que o Inter tenha colhido boas lições nesta sua primeira experiência.
Postado por Wianey
Comentários