Rubens Minelli costumava dizer que, tendo que escolher entre dois jogadores de igual nível técnico, elegeria o mais alto e mais forte. Transportemos o conceito de Minelli para a área dos treinadores. Eu diria assim: entre dois treinadores de conhecimentos semelhantes, fico com o mais educado.
No passado, havia treinadores como Yustrich e Paulo Amaral, dois verdadeiros trogloditas no trato com os jogadores, imprensa, torcedores, etc. Inscreveram-se na história do futebol como “homens maus”, mas acho não alinham na galeria dos grandes vencedores.
Grêmio e Internacional contam com dois treinadores que primam pela civilidade. Ambos não alteram o tom de voz nem quando são colocados diante de questões, às vezes, impertinentes e provocativas. Sabem que não existem perguntas ruins, apenas respostas inconvenientes.
Paulo Autuori e Tite são pessoas educadas. Educadíssimas, pode-se dizer. Entretanto, já recebi inúmeros e-mails de gremistas e colorados reclamando do discurso de ambos. Tite é chamado de “padre” porque costuma ser didático nas suas explicações. Autuori ainda não recebeu apelido. Afinal, está no Olímpico há pouco tempo e o time anda funcionando bem. Mas, apostem, bastará o Grêmio alinhar alguns resultados negativos e a fala de Autuori será pauta de cobranças.
Confesso que não admito esta rejeição por treinadores gentis e bem educados. Já convivemos com profissionais fanfarrões, debochados, espertalhões, marqueteiros e grosseiros, muito grosseiros. Estes, estranhamente, são verdadeiros ídolos de boa parcela da torcida gaúcha. Esta claque do bico na canela se diverte e aplaude manifestações que desconsideram os mais elementares princípios de convivência social civilizada. É difícil entender.
Paulo Autuori é um treinador consagrado. Tite, um profissional com trabalhos vitoriosos em vários clubes. Outro dia, ele precisou elencar algumas campanhas bem sucedidas sob o seu comando porque as menos luzidias a maioria dos torcedores não esquece.
Não me atreveria a dizer que Autuori e Tite são treinadores que nunca erram e, por isso, não podem ser criticados. Erram, sim, como qualquer profissional em qualquer atividade. E, quando acontece, cabe-lhes receber a crítica com naturalidade. É o que acontece.
Tite, por exemplo, jamais contra-atacou em nome de alguma crítica que tenha recebido. Pelo contrário, repete a todo o instante que não comenta avaliações de outras pessoas. Chega a ser comovedora a sua humildade. Não é diferente o comportamento de Autuori. Mas, para parte da torcida gaúcha, Tite é o “padre” e Autuori, certamente, ainda será chamado de “orador de velório”.
Pô, mas que importância tem o tom das falas dos treinadores? Até parece que relinchos são mais bem vindos.
Postado por Wianey
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