Fernando Carvalho, vice-presidente de futebol do Inter, está indignado. A causa é esta: Lucas Roggia e João Paulo são dois jovens, 18 anos, sobre os quais recai a suspeita de que serão craques de futebol. Roggia é atacante de tantas habilidades que já o compararam a Alexandre Pato. João Paulo, um meia cerebral. É o mínimo que concedem aqueles que os conhecem. Ambos estão no Beira-Rio desde o início da adolescência. Do clube, receberam atendimento especializado em preparação física, nutrição, desenvolvimento emocional e técnico. Até hoje significaram apenas investimentos do Inter. Dentro de um ano ou dois, passariam a retribuir a formação recebida, figurando entre os profissionais. Este dia, entretanto, talvez não chegue. O Inter enfrenta o risco de perdê-los sem que tivessem vestido a camisa profissional e sem receber qualquer indenização pelo investimento feito. Por quê?
A resposta está na legislação. Segundo a Lei Pelé, ou o que restou dela, o clube obriga-se a fazer o primeiro contrato quando o garoto completa 16 anos. Nesta idade, pode-se supor que um menino se transformará em um bom, grande ou magnífico jogador. Mas é impossível afirmar. Mesmo assim, os clubes brasileiros gostariam de fazer um contrato de cinco anos. Por esforços de Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, a lei chegou a ser modificada, atendendo esta reivindicação. Inútil, pois a Fifa não admite que o primeiro contrato profissional seja superior a três anos. A saída para os clubes — como Inter e Grêmio têm feito — tem sido fazer o primeiro contrato aos 16 anos e, dois anos mais tarde, quando o menino completa 18, oferecer um compromisso de cinco anos. Teoricamente, o jogador ficaria no clube até os 23 anos. Na prática, ele acaba jogando dois ou três anos, no máximo, quando é vendido.
Lucas Roggia e João Paulo assinaram o primeiro contrato dois anos atrás. O Inter está propondo um novo contrato, agora de cinco anos. Mas, diferente do que já aconteceu com Nilmar, Pato e outros, desta vez não está conseguindo porque o empresário dos garotos, o italiano Mino Raiola, está fazendo exigências salariais altíssimas. Provavelmente, ele não deseja que os garotos assinem novo contrato. Assim, poderia levá-los para a Europa, como já fez com Felipe Mattioni que está escondido no interior da Espanha, não lhe importando se a formação física, técnica e emocional dos meninos já se completou. E o clube, formador dos garotos, que se dane. É a fonte envenenada pelo mercantilismo.
Postado por Wianey
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