Quem convive comigo sabe que tenho poucos ídolos no futebol. Eles se resumem a Pelé, Fábio Koff, Fernando Carvalho e Enio Andrade. Talvez um ou outro mais, mas poucos. Já em outras áreas, acumulo admiração por dezenas de pessoas, talvez centenas entre escritores, homens das artes, políticos, jornalistas, etc . Entre eles, em posição de destaque, situo Paulo Sant’Ana. Tenho acompanhado em silêncio dolorido a luta do Pablo pela recuperação da sua saúde. Por esta razão, declaro-me feliz por identificar nas agulhadas que o meu ídolo tem me desferido, indício de que está vencendo a sua batalha. Se o Sant’Ana quer “briga” é porque está recuperando todas as suas energias vitais. Só não precisa bater tanto. Também sei reagir.
Já escrevi e declarei trocentas vezes que não atiro pedras em treinador antes que tenha completado, pelo menos, 60 dias de trabalho. É o tempo mínimo para um técnico conhecer seus jogadores, técnica e pessoalmente, e definir seus planos. Falcão completa, hoje, 52 dias no cargo. Preciso alterar meu critério de muitos anos apenas para agradar terceiros? Não vou mudar, garanto.
O Sant’Ana é um grande ficcionista, outra das suas virtudes. Criou uma historinha interessante, segundo a qual, avalio mal o time e elenco do Inter para proteger e defender Falcão. Cara sabido, o Pablo! Inverteu os personagens e, como saiu atirando, está em momentânea vantagem. Na verdade, quando golpeia a direção do Grêmio pelo atraso nas contratações de atacantes – desconsidera que importações só são possíveis nas janelas da FIFA – está protegendo sob a sua longa asa paternal o seu eterno ídolo, Renato. Percebe-se substituindo Falcão e Wianey por Renato e Sant’Ana, na sua bem urdida historia. O esforço do Pablo também me comove e me diverte.
Paulo Sant’Ana adora fazer previsões. Acerta, às vezes, mas nem sempre. Façamos uma, meu amigo: qual time irá mais longe no Brasileiro: o Grêmio ou o Inter? Só tem uma maneira de o Grêmio ficar atrás do Inter: todas as suas contratações fracassam e o Inter busca reforços qualificados para encorpar o seu time. Aposto no Grêmio, Pablo, e tu?
Falcão, jogador, tem a minha ampla admiração, mas não a minha idolatria. É diferente. Somos amigos desde os tempos em que éramos emergentes nas nossas profissões. Neste momento, porém, ele é o treinador e eu o crítico. Perguntem ao Bola-Bola sobre as chineladas que lhe passei, em 1993, quando treinou o Inter. Não misturo amizade com trabalho. Desde que Falcão assumiu, no Inter, conversamos duas vezes. Na primeira, mandei-lhe um torpedo desejando boa sorte. Ele telefonou-me para agradecer. Na segunda vez, Falcão ligou para, cordialmente, ponderar que eu estaria, na sua opinião, pegando pesado demais em Bolívar. E desfiou uma dezena de virtudes do capitão colorado. Nada prometi e depois desta conversa, não falamos mais.
Paulo Roberto Falcão, quando comentarista, escreveu dezenas de vezes em ZH que o time do Inter precisava ser qualificado para pretender vôos mais altos. Por que mudaria de opinião, agora? Louvo a sua coragem e acredito, sinceramente, que esteja sendo vítima de avaliações exageradas. Mas, principalmente, de conspirações tramadas no vestiário e nos gabinetes do Beira-Rio. Basta ouvir o que os repórteres informam sobre o que ouvem de jogadores e dirigentes. É pura “onda”. Falcão será bem sucedido, como treinador do Inter? Não sei, mas considerando o quadro atual, vencer será uma tarefa hercúlea.

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