Wianey Carlet

É possível que a ausência de um único jogador seja capaz de alterar a tendência de um Gre-Nal? Não é comum, mas se este jogador for D´Alessandro, a resposta é positiva. Ninguém, no Beira-Rio, tem sido mais importante do que o meia argentino, nos últimos clássicos.

Ontem, durante o treinamento, D´Alessandro deixou o gramado amparado, acusando o que chamaram de desconforto muscular na panturrilha de uma das pernas. O problema, segundo avaliações imediatas, não compromete a sua participação no Gre-Nal.

Mas, sabemos todos, que desconfortos musculares podem ser sinais de que algo mais grave está na iminência de acontecer. Com D´Alessandro, a força do Inter aumenta. Sem ele, o meio-campo cai para uma condição comum, esvai-se a criatividade. D´Alessandro é essencial para o Inter.

Depois de testemunhar dezenas de Gre-Nais, o mínimo que se aprende é que favoritismo pode ser apenas uma miragem, algo que parece, mas não é. Em raras ocasiões, contudo, é inevitável que um dos times se apresente em condições tão superiores tornando-se inevitável elege-lo como favorito para o clássico. Talvez seja o caso do Internacional, a quem assistem todas as motivações para buscar a vitória. O Grêmio, por seu lado, só tem a mobilizá-lo o desejo da sua torcida em estragar a festa colorada, impedindo o rival de conquistar vaga para a Libertadores. É difícil imaginar que o sentimento das arquibancadas baixe, integralmente, sobre jogadores que vieram de outros lugares e não carregam a histórica rivalidade do clássico. Porém, haveria um elemento capaz de impulsionar o ânimo do time gremista: ter o novo treinador presente no Gre-Nal. Ainda que fosse, apenas, como observador. Caio Júnior, o favorito do momento, está na Espanha. Só chegaria na próxima semana. Neste caso, Roger conduziria o time, domingo. O que levaria os jogadores a oferecer esforços extras para um treinador interino? O Grêmio, realmente, tem poucos motivos para vencer.

Entre os dirigentes e executivos do futebol brasileiro, Paulo Pelaipe alinha-se entre os mais espertos e capazes.

E, desde que se profissionalizou, aprimorou suas atitudes políticas. Exemplo: perguntado se o Grêmio pagaria bicho-extra aos seus jogadores para tirar o Inter da Libertadores, Pelaipe garantiu que o seu time jogará pela própria honra, defendendo a dignidade do clube e aos jogadores não lhes será pago prêmio algum.

Ora, um dirigente também precisa ser bem humorado. A manifestação de Pelaipe é graciosa, oportuna, mas inverossímil. Se o Grêmio não pagar prêmio à sua equipe e o Inter vencer o Gre-Nal e garantir vaga para a Libertadores, Pelaipe será o primeiro a ser cobrado pelos gremistas. E ele sabe disso.

O Grêmio, arrisco afirmar, pagará bicho-extra, sim, talvez maior do que a premiação oferecida pelo Inter aos seus jogadores caso conquistem a desejada vaga.

Terminados os jogos do domingo, Dorival Júnior e Celso Roth anunciaram suas estratégias para o Gre-Nal de domingo. Dorival, ainda em Macaé, antecipou a escalação do Inter com uma dúvida: Índio ou Bolívar cujo julgamento no STJD será daqui a pouco. Celso Roth, por seu lado, manteve-se fiel à sua convicção de que mistério pode ganhar jogo. Vai fechar alguns treinamentos e a escalação do Grêmio só será conhecida no domingo. As diferenças entre os dois treinadores não se esgotam por aí. Enquanto Dorival acertou o time colorado com dois volantes, dois meias ofensivos e dois atacantes, Roth insiste com o seu sistema amedrontado de um único atacante. Os momentos da Dupla são diferentes. Enquanto o Inter joga bem, até quando perde, o Grêmio vacila e se dá mal jogando mal. Mas Gre-Nal se resolve, muitas vezes, na superação. É a chance do Grêmio.

Comentei pela Rádio Gaúcha o jogo entre Flamengo e Internacional. No gol marcado por Ronaldinho Gaúcho, minha primeira impressão foi de falha grotesca de Rodrigo Moledo. Entretanto, na repetição do lance foi possível perceber com clareza que o zagueiro está voltando para a sua área quando a bola lançada por Thiago Neves toca o seu calcanhar e muda de direção, oferecendo-se para Ronaldinho. Pura infelicidade de Moledo e sorte absoluta de Thiago Neves que, errando o passe, acabou tabelando sem querer com o calcanhar de Moledo. Não compreendo que, apesar das imagens claras da televisão, tanta gente esteja debitando na conta de Moledo a responsabilidade pelo gol sofrido.

Em qualquer outra circunstância, seria constrangedor para qualquer pessoa admitir que o seu único projeto seria estragar a festa alheia. Nada a ganhar, apenas o prazer de atrapalhar a vida de outrem. Porém, a paixão e a rivalidade, ingredientes permanentes do futebol, absolvem e permitem o que seria um deslize comportamental, sem culpas. A torcida gremista proclama como sua principal missão ganhar o Gre-Nal e impedir que o Inter ingresse na Libertadores.  Sinceridade máxima. Se não fosse assim, o clássico do próximo domingo seria insosso como pudim de chuchu. Com as duas equipes levando para campo as suas motivações particulares, teremos um Gre-Nal para fazer história. Que ganhe quem for o melhor.

Como a exigência da Fifa será atendida e será liberado o consumo de cervejas durante a Copa 2014, nos estádios, a proibição deixará o Estatuto do Torcedor e só se manterá nos Estados que possuem legislação própria, impedindo bebidas alcoólicas nos jogos. Trata-se de uma lei de pouquíssimos efeitos, já que os apreciadores da cerveja costumam encharcar-se da bebida antes de entrar nos estádios. Já vivemos no Brasil o período em que era proibido proibir. Hoje, proibir é o verbo mais apreciado.

Confesso que me surpreendi quando os repórteres de rádio informaram, ao final da tarde de ontem, que Celso Roth comandara uma exigente sessão de trabalhos com duas horas de duração. Para quê? – pensei, se o Grêmio nada terá a fazer nos seus dois últimos jogos? Tanto empenho na semana do Gre-Nal, ainda seria compreensível, mas tamanha preparação para enfrentar o Atlético Goianiense? Passado o espanto da primeira hora, lamentei minha perplexidade inicial. Celso Roth já demonstrou, inúmeras vezes, seu alto profissionalismo. Neste momento, não lhe importa se o próximo jogo vale menos do que nada. O treinador quer ver o seu time jogando bem e vencendo. Isto se chama dignidade profissional.

Não sei se a derrota para o Inter, decisão do Mundial de Clubes em 2006, foi assimilada e esquecida por Ronaldinho Gaúcho. Não deve ter sido. Foi um revés histórico e fatos com grande significação costumam ficar guardados na memória. Neste domingo, Ronaldinho poderá se ressarcir, pelo menos em parte, dos dissabores daquela derrota, derrotando o Inter, em Macaé. Esta seria uma das suas possíveis vinganças. A outra, contraditoriamente, poderia sair de uma derrota do Flamengo.

Há poucos dias, Ronaldinho jogou no Olímpico e foi hostilizado como jamais acontecera com jogador algum antes. Oferecer ao Inter vaga para a Libertadores seria, para Ronaldinho, a oportunidade para devolver aos gremistas o seu desconforto. Qual seria a vingança mais desejada pelo R10? Na verdade, creio que nada disso passa pela cabeça do ex-craque. Ronaldinho “está muito feliz” sempre, ganhando, perdendo, sendo aplaudido ou vaiado. O que importa é o pagode e uma opulenta conta bancária, não é verdade?

Segunda-feira, o programa Bem Amigos mostrou em rede nacional o lance em que Bolívar acerta Dodô e as imagens do jogador desembarcando em Salvador, de muletas. Todos os participantes do programa execraram a agressão de Bolívar e endossaram a campanha popular que pede punição equivalente ao tempo que Dodô ficará em recuperação. O lance mostra, mesmo, inaceitável violência de Bolívar. Entretanto, faltas como aquela acontecem na maioria dos jogos, só com consequências mais leves. Estará criado um ambiente imensamente desfavorável para Bolívar, domingo, em Macaé. O próprio zagueiro estará condicionado a evitar confrontos físicos, o que poderá resultar em atuação comprometida. Sei não, mas não pensa errado quem entende que o Inter não deveria escalar Bolívar nestes dois últimos jogos do Brasileirão. O zagueiro colorado está marcado.

Às 17h30m, hoje, o Grêmio apresenta aquela que deverá ser a sua contratação mais importante para 2012. Kleber receberá as boas vi8ndas da torcida gremista na Arena. Somente 200 gremistas poderão participar do evento, já que não existe mais espaço disponível no novo estádio em construção. E, mesmo este pequeno contingente de torcedores enfrentará imensas dificuldades para vencer o trânsito pesado que atormenta os motoristas em final de dia, naquela região. Se a apresentação de Kleber fosse realizada no Olímpico, milhares de gremistas poderiam saudar seu novo jogador, beneficiados pela localização central e fácil acesso ao estádio. Sinceramente, acho que o marketing do Grêmio escolheu o lugar e hora errados para o grande acontecimento.

Ambos são goleadores, estão no meio de carreiras vencedoras e qualquer grande clube brasileiro gostaria de tê-los nos seus elencos. Kleber, já contratado pelo Grêmio, e Dagoberto, contratação que será feita pelo Inter, vão enriquecer as equipes da Dupla, em 2012. Kleber é encrenqueiro e Dagoberto um notório “marrento”. Terão que ser administrados com os cuidados de um ourives. Não importa muito. Pesa, sim, que sejam ótimos atacantes, fazedores de gols. Qual deles vale mais: Kleber ou Dagoberto? Quem tem maior credibilidade entre gremistas e colorados? Qual o clube, Grêmio ou Inter, que desfrutará mais alegrias com o seu reforço? Com a palavra, sua majestade, o torcedor.

Aleluia! A criança vai nascer. O parto está programa para a tarde desta quarta-feira, quando Kleber, finalmente, será apresentado ao torcedor gremista. Mesmo que não sejam dias de celebrações, imagina-se que muitos, talvez milhares de gremistas estarão presentes na festa que o marketing do Grêmio, comando pelo Paulo César Verardi, está programando. Não perderão a oportunidade para duplos festejos: recepcionar o primeiro grande reforço para 2012 e apreciar a Arena que se ergue imponente e cujas obras avançam celeremente. A quarta-feira será, para os gremistas, um momento de alegria pontuada entre as frustrações da temporada.