Wianey Carlet

Já ouvi, quase duvidando, que o clássico de fechamento do Brasileirão poderá ser uma nova versão do Gre-Nal do Século, pois significaria para o Grêmio a chance de tirar o Inter da Libertadores e para este a possibilidade de garantir vaga para esta competição.

Não consigo concordar.

Não tem tanto valor histórico um clássico em que apenas uma equipe tem algo a ganhar ou perder. Se estivesse em disputa a classificação, com chances iguais para cada um, então seria um Gre-Nal para a posteridade. Neste jogo, o Grêmio apenas lutará para estragar a festa do rival, se for o caso.

É muito pouco. Poderá alimentar a triste alegria de trazer o adversário para baixo, mas não enriquecerá a história do futebol gaúcho. Seria, simplesmente, o Gre-Nal da mediocridade.

Que grandeza existe em ganhar e não levar?

Um time desanimado, desinteressado e sem brios, assim foi o Grêmio na sua desastrada jornada contra o Ceará. É compreensível que, nada mais tendo a fazer no campeonato, os jogadores não assumissem atitude de quem disputava uma copa do mundo. Entretanto, envergonhas o clube e a sua torcida deveria ser mínima preocupação dos profissionais que, aliás, seguem ganhando seus robustos salários e só estão nesta situação de desencanto porque eles mesmos provocaram. E o Celso Roth? Vai encerrar a temporada achando que fez grande coisa ganhando quatro ou cinco posições desde que assumiu o comando da equipe gremista. Pode-se aceitar que o Grêmio esteja suportando o estado de fim de festa. Mas não é cabível que acrescente fiascos ao cenário que já é constrangedor.

Quanto custam ao Inter os repatriados Jô, Wilson Mathias e Sandro Silva? Imagino que esteja nos planos do Inter enxugar a sua folha de pagamentos, extremamente inflada por jogadores que pouco ou nenhum retorno proporcionaram. É inadmissível que o clube continue rasgando dinheiro. A tarefa deve ser assumida por Luiz Anápio, o homem forte do futebol colorado. Nada se fala sobre reestruturação do elenco, mas este planejamento já deveria ter iniciado.

Desgostam Paulo Odone as críticas de cronistas esportivos ilustres de São Paulo e Minas Gerais à contratação de Kleber. O presidente do Grêmio não disse, mas passou a ideia de que as reprovações contém ciúme pela capacidade de investimento do Grêmio. Não acredito nesta possibilidade, mas concordo com Odone quando ele diz que importante, mesmo, serão os gols que Kleber marcará. O dirigente nem se importa com algumas expulsões que, fatalmente, o atacante provocará. O risco vale a pena ser corrido.

Juan mereceu punição, sim, pela sua expulsão e posterior comportamento ofensivo contra a torcida. Entretanto, é um erro punir o time. Por castigar o zagueiro tirando-o do time, Dorival está escalando Moledo fora da sua posição e dando titularidade para Bolívar. Não seria suficiente penalizar Juan com uma multa?

Terminado o jogo contra o Bahia, tendo vencido e sido beneficiado por resultados paralelos, o Inter mostrou sua nova face, a de gato escaldado, que tem medo de água fria. Jogadores e treinador, consultados sobre a nova perspectiva de o time ingressar no G-5 foram afinados nas respostas: ninguém quer fazer projeções.

Dorival Júnior e D’Alessandro foram claros nas suas justificativas: sempre que se aproxima do grupo da Libertadores, o Inter perde e se afasta outra vez. Já se acumula um considerável conjunto de frustrações. Ninguém quer arriscar a acrescentar mais uma. Domingo o Inter encara o Botafogo, no Rio de Janeiro. Melhor tratar de ganhar e ver, depois, como é que ficou.

Já seria tarefa difícil de ser cumprida a de enfrentar o Fluminense, no Rio de Janeiro. A missão se complica ainda mais considerando os desfalques compulsórios que a equipe de Celso Roth terá que suportar e, pior ainda, a total falta de motivação para encarar este compromisso.

Para não dizer que nada importa ao Grêmio, cabe lembrar como derradeiro fator de mobilização o fato de que o clube ocupa a 11ª posição, na tabela, e só existem vagas para a Sul-Americana até o 12º lugar.

O Grêmio soma 47 pontos ganhos e os seus concorrentes mais próximos são o Bahia e o Palmeiras, ambos com cinco pontos menos. É possível, embora improvável, que ultrapassem o Grêmio. Desconsiderar esta possibilidade, porém, não é recomendável.

Quando se diz que os adversários ajudam o Inter, mas este não se ajuda, proclama-se uma verdade pela metade. Ou, pelo menos, deveria ser considerado, igualmente, que o Inter ajuda seus rivais, mas estes não se ajudam.

É por efeito do equilíbrio técnico do Brasileirão que o Inter entra em campo, esta noite, Beira-Rio, ainda com chance de buscar vaga para a Libertadores.

Nem as duas últimas derrotas mataram o time de Dorival Júnior. Como continua vivo na disputa, também o Inter se candidata a ser imortal, pois morre e morre e continua respirando.

Não divirjo de cronistas ilustres como Juca Kfouri e Tostão, que consideram alto o investimento do Grêmio e recriminam o comportamento pessoal de Kleber. Acho, contudo, que o risco assumido pelo Grêmio é justificável. O atacante está entre os melhores em atividade no Brasil. Diferente de Lins, Júnior Viçosa, Diego Clementino e outros que consumiram altas somas do clube e não corresponderam, Kleber poderá ser a repetição de Lula (Inter, anos 70) que “incomodava os dirigentes durante a semana e os adversários aos domingos”. O Grêmio precisa abandonar o marasmo dos últimos anos, quando contratava segundo o preço do jogador. São raras, quase inexistentes, boas opções para o ataque. O Grêmio decidiu pagar o que, talvez, seja um exagero. Mas, se não fosse Kleber, quem seria? Muito pior do que fazer um alto investimento de bom risco seria iniciar a temporada de 2012 repetindo a frustrada política dos últimos anos. A torcida gremista, após uma década de fracassos, tem direito à esperança de um ano melhor. Um bom time vai alavancar significativo incremento na arregimentação de sócios. Os gremistas só esperam por um sinal para despejar dinheiro nas burras do clube. Paulo Pelaipe fez o que deveria fazer: fechou o negócio.

Dorival Júnior queixa-se da falta de atacantes. Só por esta razão, garante, não vem escalando o Inter com dois homens de frente. Vá lá, justificativa aceita.

Porém, o time só não terá dois atacantes, amanhã contra o Bahia, se o treinador não quiser. Leandro Damião está de volta e Gilberto poderá ser escalado ao seu lado.

Para enfrentar o Bahia, uma dupla no ataque colorado só dependerá de Dorival.

Kleber pode ter todas as razões para não gostar de Luiz Felipe Scolari. Nada, porém, justifica que coloque os seus colegas de Palmeiras em situação de constrangimento, declarando que 90% deles não gostam de Felipão. Até porque não deve ser verdade. Basta lembra que a Seleção que Felipão conduziu ao título mundial era chamada de “família Scolari”. E era uma equipe recheada de grandes jogadores, muito diferente do atual time do Palmeiras. O problema para lidar com alguém que fala demais é a possibilidade de que repita a atitude outras vezes. Hoje, o alvo é o Felipão, quem será o de amanhã?

Nem sempre o que parece é. Havia sólidos indícios de que Kleber estava se leiloando, aproveitando o súbito interesse do Corinthians na sua contratação. Esta seria a explicação para a sua indefinição. Entretanto, no final do domingo, surgiu uma justificativa poderosa: Kleber estaria tentando resolver um importante problema de saúde, na sua família. Se encontrar solução nas próximas horas, embarcará para Porto Alegre e será jogador do Grêmio nos próximos cinco anos. Porém, se não resolver a sua dificuldade, é provável que permaneça em São Paulo, mesmo perdendo dinheiro, pois o Corinthians declara que não cobrirá a proposta feita pelo Grêmio. Esta é a verdade. Até que surja outra, claro, nunca se sabe.

Celso Roth alinha entre os treinadores mais teimosos do mundo. Prefiro falar em teimosia a supor que tenha dificuldades para aprender. Mas os dois conceitos cabem. Duas provas:

- O Grêmio, em grande parte do jogo contra o Palmeiras, teve três volantes defensivos no meio-campo: Fernando, Rochemback e Adilson, formação que desequilibra qualquer time. Porém, por teimosia ou desconhecimento, Roth insiste em escalar este trio que é especialista em destruir e pouco apto a construir.

- Adilson é primeiro volante e só. Talvez possa quebrar o galho como zagueiro, pode ser. Mas não tem vocação alguma para ser meia-armador. Ontem, mais uma vez, foi escalado para o meia-direita na tal linha de três armadores. Pô, o cara recebe a tarefa de fazer o que não sabe enquanto deixa de fazer o que sabe. Parece que Celso Roth é a única criatura que ignora esta verdade.

Teimosia crônica, este é o defeito deste bom treinador.

Pela primeira vez, Dorival Júnior irritou-se com as críticas recebidas por suas decisões no jogo contra o Cruzeiro. Entendeu que as reprovações não são fundamentadas, declarou que colocou Andrezinho no jogo para tornar o time mais ofensivo (acredite quem quiser) e retirou D´Alessandro porque o meia não estava bem. Lamentou não ter dois atacantes para escalar, mas não explicou porque, durante o jogo, não compôs o ataque com Gilberto e Zé Roberto. Se Leandro Damião sofre com a falta de parceria, como não sofrerá Gilberto, meses parado e sem entrosamento? Dorival não gostou de ser criticado, revelou a sua tristeza, mas não pensou, certamente, na dor dos colorados incrementada pelas decisões equivocadas do treinador.