Wianey Carlet

O Gre-Nal do dia 25 de agosto está marcado para o Beira-Rio. Se o Inter não encontrar uma solução para organizar o acesso dos torcedores, talvez seja mais conveniente mudar o local do clássico. Sábado, uma quantidade enorme de colorados sequer conseguiu acessar o estádio, enquanto outro tanto só conseguiu se acomodar e ver o jogo quando um bom pedaço do espetáculo já tinha acontecido. Se com uma só torcida o problema não é resolvido, com duas torcidas a tendência é piorar a situação. O local do próximo Gre-Nal deve ser discutido com muita seriedade, sem paixão.

Ainda que em centros desenvolvidos do futebol mundial alguns clubes disputem mais de uma competição, simultaneamente, sem esta história de poupar jogadores, no Brasil está decretado que é preciso priorizar, reservando os titulares para a competição eleita como mais importante. Se alguém pensa que a maneira brasileira de encarar esta circunstância está sendo criticada, engana-se.

Com a pré-temporada curta que se faz no Brasil, é mesmo impossível disputar mais de um certame, concomitantemente. O Grêmio, a partir de amanhã, terá que fazer a sua escolha: prioridade para o Brasileirão ou a Sul-Americana? Ou, quem sabe, para as duas, com amplas chances, neste caso, de se dar mal em ambas.

E não adianta disfarçar, misturando titulares e reservas. Amanhã, já tem jogo pela competição sul-americana: o Coritiba, outra vez, no Olímpico. Com o pé no acelerador ou o freio de mão puxado? Este é o dilema. Qual será a prioridade do Grêmio?

 O Fluminense restava como o único time que ainda não tinha sido derrotado, neste Brasileirão. O Grêmio acabou com a virgindade do clube carioca na sua quarta vitória consecutiva. Abel Braga mostrou que aprendeu a se retrancar quando as circunstâncias exigem. Armou o Flu com três zagueiros tendo à frente uma segunda linha defensiva de quatro jogadores. Resistiu até os 22 minutos da etapa final quando Kleber marcou o gol do Grêmio. O mesmo Kleber que conseguiu sua expulsão no final do jogo. Que pena. Mas, importante é que o Grêmio vem fazendo campanha de quem quer ser campeão.

Fernandão é um homem de estrela. Decidiu passar para o time dos treinadores e nos seus dois primeiros jogos faz seis pontos. É verdade, os adversários estavam nas piores posições da tabela, mas até neste fato se confirma a boa sorte do treinador. O Inter, ontem, poderia ter goleado o Figueirense, tantas chances desperdiçou. D´Alessandro apanhou, foi provocado mas suportou em silêncio. Não reagiu, simplesmente suportou. O Figueirense foi diferente, taticamente, do Atlético-GO. Encarou o jogo e o estádio. Entrou no time dos quatro. Por fim, uma referência indispensável: Fred teve outra performance excelente. O Inter confirmou a venda de Oscar mas, tudo indica, já tem um substituto à altura. Fred, este é o nome.

Fred é a estrela do Inter. Fernandão confirmou sua titularidade e sobre ele a torcida colorada concentrará a sua atenção, esta noite. O garoto já demonstrou possuir personalidade forte. Corajoso, rápido e possuidor de ótima técnica, Fred tem tudo para se afirmar no Inter. Desde que não passe a “se achar” além da conta. Quem conhece Fred garante que para ele jogar no Beira-Rio ou no Orlando Scarpeli é a mesma coisa. Pelo que já demonstrou, dá para acreditar.

O início da semana foi marcado por aparente desinteresse da torcida gremista pelo grande jogo desta noite. A procura por ingressos ficou muito abaixo das expectativas, mas a grandeza do confronto com o Fluminense acabará levando a torcida gremista ao Olímpico. O jogo vale muito e o torcedor já percebeu. O horário da partida, levando em conta o frio destas noites de inverno, é de afugentar fã das arquibancadas. Mas, todos terão que se conformar. Os clubes venderam os seus jogos para a televisão e incluíram no pacote os horários. Se quiserem encontrar culpados, eles formam o grupo mais importante do futebol brasileiro: os clubes. Todos muito conhecidos.

O Inter encantou a sua torcida, domingo passado, pelo futebol rápido e envolvente que aplicou no Atlético-GO. Quem viu o jogo sabe que Fred foi o principal responsável pelo aparecimento desta virtude que, aliás, desaparece quando joga D´Alessandro. Trata-se de um grande jogador, mas que não tem, entre as suas muitas qualidades, a da velocidade. Com D´Alessandro, o Inter se torna uma equipe lenta e previsível.

Desde que Vanderlei Luxemburgo puxou as orelhas de Marcelo Moreno, exigindo que o centroavante “arrastasse a bunda”, o jogador não parou mais de fazer gols. Ontem, mais uma vez, soube aproveitar a jogada construída por Elano e Zé Roberto, a diferença do Grêmio nos últimos jogos. O time de Luxemburgo está organizado, equilibrado e mobilizado como ainda não estivera este ano.

Marcelo Grohe provou, mais uma vez, que o Grêmio podia vender Victor. O goleiro gremista foi a figura de um jogo que tinha a estreia do grande Seedorf. Grohe foi a muralha que garantiu a vitória do Grêmio e a permanência no grupo dos quatro melhores times do Brasileirão.

Fernandão parece ter nascido para trabalhar no Internacional. Na sua estreia como jogador marcou o gol 1000 do Inter. Mais tarde, como capitão da equipe, conquistou os títulos mais importantes da história do clube e ontem, no seu primeiro jogo como treinador, aplicou uma goleada no adversário, a maior conseguida pelo Inter, até agora, no Brasileirão. É justo destacar estes aspectos positivos da relação de Fernandão com o Inter, mas também é imperioso que se registre: o Atlético Goianiense é o lanterna do campeonato porque é, também, a equipe mais fraca da competição.

Não dá para se enganar.

Fred foi o grande destaque do jogo. O garoto foi descoberto por Assis Moreira no Atlético Mineiro, trouxe-o para o Porto Alegre e um ano depois o repassou para o Inter. Fred substituiu a lerdeza do Inter pela velocidade que o time não tinha. Grande técnica, visão privilegiada de jogo, sabe quando a jogada é para finalizar a gol ou acionar um companheiro. Oscar está indo embora e Fred surge como um craque a substituir aquele que está saindo.

Fernandão começou o jogo com três volantes. Como era fácil prever, o time não funcionou. No intervalo, substituiu o lateral-direito por um meia-atacante e mandou Elton, um dos volantes, para a lateral. Acertou o time. Elton, aliás, teve ótimo desempenho no meio e melhor ainda na lateral. Falta-lhe sequência de jogos e apoio moral.

Desta vez, o Internacional não perdeu tempo. Normalmente, os dirigentes deixam que o desgaste do treinador se torne insuportável para, só então, providenciar a sua substituição. Se Dorival Júnior não fosse dispensado agora, seria mais tarde. O treinador esgotara o seu prestígio com a torcida. Mas, certamente, não foi esta a única razão para a sua saída. Provavelmente, o treinador havia perdido o controle do vestiário. Quem assumir terá que colocar a casa em ordem e enfrentar as hierarquias internas que dominam o vestiário colorado. Para fazer este trabalho, além de reorganizar a equipe do Inter, só vejo um treinador disponível no mercado: Dunga. Tem que ser o Dunga.

O Inter estava consciente de que enfrentaria dificuldades terríveis. O Atlético liderava o Brasileiro e o Inter não contava com os seus principais jogadores. Dorival Júnior viajou obrigado a apostar nos garotos. O Inter conseguia segurar o empate quando D´Alessandro repetiu suas piores atitudes e acabou sendo expulso. A derrota se tornou inevitável. Fred, garoto que saiu do Galo Mineiro, diminuiu a diferença. O Inter foi traído, mais uma vez, por D´Ale.

Poucas vezes se viu retranca tão descarada como a mostrada pelo Sport, ontem à noite, no Olímpico. Por mais que seus jogadores  tentassem prensar o adversário contra a sua área, o Grêmio não conseguia invadir a zona de arremate.

E se estava ruim, piorou quando o Sport surpreendeu marcando o seu gol. O estádio ficou nervoso e o time de Luxemburgo foi para o vestiário perdendo e sabendo que a retranca pioraria, na etapa final. Veio o segundo tempo e a situação não se alterava quando Leandro foi chamado pelo treinador.

O garoto entrou e virou o jogo. O Grêmio passou a atacar pelo flanco esquerdo, o time cresceu e transformou a derrota em uma bonita vitória. Leandro marcou dois gols mas Elano, outra vez, mostrou que é o tipo de jogador que arruma time. Foi o destaque do jogo.

O Grêmio saiu de campo festejando sua segunda vitória seguida. O time está crescendo. Ah, se a defesa gremista fosse um pouquinho melhor…

Já está se tornando rotina, no Beira-Rio: a torcida vaia Dorival Júnior, mesmo quando o time está ganhando. Treinador e torcedores estão em rota de colisão e não parece haver possibilidade de evitar o choque. Cobram-se de Dorival melhores resultados, sim, mas acima de vitórias o que os colorados mais lamentam é a estagnação do time. O Inter não evoluiu e quando altera o seu movimento, é para baixo.

É verdade que o time é deficitário em várias posições. Na defesa estão os principais problemas mas o ataque também funciona precariamente. Reforçar o time (laterais e zagueiros, por exemplo) é tarefa dos dirigentes mas incutir competitividade ao time é função do treinador. Entretanto, o Inter mostra uma equipe conformada e sem força de reação. Trata-se de um velho e surrado filme do futebol. A pressão vai aumentar até o clube dispensar o treinador. Quando esta hora chegar, não haverá tempo para encontrar um bom substituto. E o ano estará perdido. O Inter está repetindo uma antiga rotina.

A brilhante vitória gremista sobre o Cruzeiro não deve significar exagerada euforia, mas tampouco pode ser ignorada como uma tendência saudável de time que se aproxima de um estágio satisfatório. Tão ou mais importante do que o resultado foi o desempenho do time, mesmo precisando carregar a desvantagem de uma expulsão no final do primeiro tempo. É possível que o Grêmio ainda não tivesse alcançado o equilíbrio que exibiu em Belo Horizonte.

Nos últimos tempos o time oscilava entre exageros ofensivos ou descabidas providências defensivas. Para ser mais claro: ou três volantes ou três atacantes ou, até mesmo, um atacante e até três zagueiros. Domingo, Luxemburgo premiou o Grêmio com a simplicidade, utilizando o velho e bom 4-4-2. Nada ficou provado, ainda, mas o Grêmio trouxe de BH uma tendência que deverá representar evolução do time, nos próximos tempos.

O Grêmio quer Riquelme? O Cruzeiro também quer? Outros clubes querem o jogador argentino? Tudo bem, cada um gasta o seu dinheiro como quiser. No caso de Riquelme, entretanto, conviria aos interessados ler o que ele declarou ao jornal argentino Olé após a derrota na Libertadores. O leitor Marcel Matos recortou a notícia que não é original mas cabe ser reiterada considerando o interesse continuado de alguns clubes por Riquelme. Suas palavras:

- Me voy. Amo este club, esta camiseta, pero no voy a continuar. No puedo jugar a la mitad”. Y añadió: “Si mi hijo quiere, seguiré jugando. Pero acá, no. Si mi hijo me lo pide, jugaré un tiempo más, pero acá no puedo, no a la mitad.

Riquelme foi honestíssimo. Não quer enganar o clube que ama jogando “pela metade”. Mas, se alguém aceitar “meio” Riquelme, ele jogará um pouco mais. Quem quer?