Reproduzo, a seguir, o e-mail que este blog recebeu de um torcenauta. No fim, deixo a opinião do blogueiro sobre o assunto:
“Prezado Wianey
Parte de mim chora de frustração e parte de mim sorri alegremente; explico: A parte alegre da história é que em 1977 eu tinha 5 anos de idade e meu pai me levou pela primeira e única vez ao estádio olímpico para ver o Grêmio, que depois veio a ser meu time do coração. Lembro que o goleiro do Grêmio era o Manga e tinha um negrinho que depois de fazer gol virava cambalhota, o André Catimba. Foi minha única vez que estive em um estádio de futebol.
Nunca mais botei meus pés em um estádio, porque na época meu pai e meu falecido avô diziam que era perigoso e realmente acho que era, pois era no tempo em que os soldados da Brigada Militar usavam capacete branco e as torcidas eram misturadas e sempre dava briga. Fui proibído e cumpri as ordens de meus pais até o dia do jogo Grêmio e Cruzeiro, ou seja, levei 34 anos para voltar ao Olimpico para me despedir dele.
A minha volta ao estádio foi motivada pela campanha do Grêmio que muitas e muitas vezes vi suas conquistas apenas pela tv e via aquela festa toda e tinha muita vontade de estar lá, mas fiquei com as ordens e a imagem de 1977 na memória. Eram tempos de repressão e talvez isso tenha motivado meus pais a me proibirem de ir ao estádio.
A segunda maior motivação foi o Sala de Redação que escuto no mínimo há uns 20 anos. E nos últimos tempos escutando os debates e os comentários de vocês, realmente me motivei a retornar ao estádio.
A outra motivação foram meus amigos gremistas que me infernizaram a vida e acabaram me levando ao estádio.
Comprei minha camisa nova em folha, pois minha camisa era aquela que eu ganhara de meu pai quando eu tinha cinco anos e acho que está na casa de minha mãe. Naqueles tempos não se podia usar camisa de time na rua, não que fosse proibido por Lei, mas era motivo de confusão e brigas. Então eu não usava.
Reunimos a turma, saímos de Caxias do Sul e fomos a POA. Eu estava entusiasmado, alegre, tanto ou mais feliz de quando eu tinha 5 anos de idade. Quando eu vi o bandeirão do Grêmio de longe pela Av. José de Alencar me arrepiei e comecei a chorar de felicidade, eu de camisa nova com meus amigos e aquela atmosfera espetacular sem confusão, torcedores educados, respeitosos eu fiquei maravilhado com tudo aquilo.
Entrei no estádio não levei um empurrão, um pisão no pé. Então dei-me conta de que as coisas haviam mudado, como os meus amigos tinham me dito, mas eu não acreditava. Sim as coisas mudaram e para melhor, muito melhor.
Os policiais da Brigada foram cordiais o tempo todo com todos os torcedores.
Eu me surpreendi quando eu vi uma casal de idade bem avançada de mãos dadas na arquibancada, um pai com suas filhas gêmeas de mais de 5 anos de idade, as mulheres foram respeitadas. Juro nem em sonho eu imaginei uma coisa dessas.
Confesso que eu estava tenso eu não queria ser pé-frio diante de meus amigos e de mim mesmo. Gritei, pulei, cantei uma emoção diferente que eu nunca havia sentido na vida.
Retornamos para casa tranquilos, sem contra-tempos. Cheguei em casa, fui direto para internet e me associei ao Grêmio.
Estava feliz até o último domingo quando veio a frustração. Achei que tinha me arrependido de ter me entusiasmado em demasia. Todos os dias , como faço há mais de 20 anos, escuto O Sala de Redação. Eis que surge o assunto que escuto no sala em todo final de campeonato ou de uma competição, o famigerado “erro de arbitragem”. Cabe, aqui, um parênteses. Quando eu e meus amigos estavamos indo para POA, um dos meus amigos me comentou que se soubessemos tudo o que acontece nos bastidores do futebol não torceríamos mais. Fiz de conta que não escutei, e eu não queria escutar o que ele disse ou insinuou. Eu queria estar de volta ou estádio e ponto final. Tudo era festa, para mim.
O assunto veio á tona durante esta segunda e terça-feira no Sala, por isso eu estou te escrevendo e obrigado por me colocar de volta a realidade, pois existe um lado sombrio e perverso do futebol que é a manipulação do resultado através da arbitragem. Não culpo os integrantes do Sala por ter comentado este assunto no programa, eu é que sou imaturo como torcedor. Infelizmente, o torcedor tem que ser maduro para entender qual o “jogo” que está sendo jogado.
Sim, já tivemos episódios no passado de árbitro que foi banido do futebol, porque estava envolvido com esse tipo de escândalo e com casas de apostas.
Ora se existiu mensalão neste País, eu não duvido mais de nada, eu só inocentemente achei que no futebol não havia mais maracutaia, mas há.
Temos que lançar uma campanha para que não haja manipulação de resultado pelos árbitros, para não tirar o brilho, a emoção e a alegria do torcedor.
É essa parte de mim que chora.
Foi emocionante, contagiante voltar ao estádio depois de 34 anos e sentir aquela energia.
Um grande e forte abraço.
André Belardinelli Brustolin”.
Caro André, não deves te abalar além da conta com os comentários que escutas, saídos de torcedores fervorosos, pode-se dizer, fanáticos. É possível que, eventualmente, aconteça alguma desonestidade nas arbitragens mas não é um caso sistêmico, garanto. O que existe é uma entre-safra de árbitros mal preparados que estão cometendo erros acima do razoável. Acredite, são apenas erros, nada mais. Continue indo ao estádio, apoiando e se divertindo com o teu Grêmio. Não te deixes contaminar pelo fanatismo que obscurece a capacidade de reflexão. O futebol é uma das melhores coisas da vida, amigão.
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