Devido à grande procura, a Urban Arts Porto Alegre prorrogou o encerramento da exposição Eu Fico com a Pureza, de Carol W. O público poderá conferir a mostra até esta terça-feira (22/10).
Confira a reportagem que publicamos na edição do ZH Moinhos da semana passada, sobre o trabalho da artista plástica :

A pureza das respostas das crianças
Por Laura Schenkel – laura.schenkel@zerohora.com.br
— A pureza ainda está em cada um de nós, basta deixar que ela apareça.
Foi isso que Carol W, como gosta de ser chamada, pensou ao ver pessoas com os olhos cheios d’água na Urban Arts.
Além das telas e esculturas, os papéis onde as crianças escreveram e que a inspiraram também estavam expostos, com a letra dos pequenos, alguns com desenhos, mostrando que as frases geniais foram, de fato, escritas pelos jovens estudantes.
Ela contatou Javier Naranjo, professor colombiano, autor de A Casa das Estrelas, que tem um dicionário feito por crianças, livro no qual se inspirou para esse projeto, para saber como fazer com que os entrevistados confiassem nela e explicassem as palavras de forma livre (leia mais abaixo). As dicas que ele passou foram falar de igual para igual, oferecendo carinho e atenção.
> Acompanhe o ZH Moinhos no Facebook
A porto-alegrense de 34 anos que mora e tem atelier na Rua Comendador Azevedo, no Floresta, visitou nove escolas públicas e particulares, levando uma caixa colorida com várias palavras e os conselhos de Naranjo. Os alunos, entre cinco e 11 anos, criaram suas próprias definições para os termos. Para criar telas e esculturas, Carol selecionou algumas explicações das crianças e as interpretou do seu modo.

O fascínio que o universo infantil exerce sobre Carol W é tão grande que seu acervo de obras infantis é muito maior do que o de literatura direcionada para adultos. Objetos que remetem à infância também estão dentre as coisas que Carol adora: bonecas de pano e de papel, pássaros, árvores, o cheiro das frutas, mar, marionetes, brinquedos de lata, diários, rir até faltar o ar, encontrar um papel lindo para sua coleção, edredon no inverno e torta de bolacha.
— Não sei explicar exatamente porque me fascina tanto, mas acredito que é exatamente pela pureza que há nas crianças, algo que eu não quero perder. Essa palavra, pureza, resume muito bem o meu trabalho e o que eu quero transmitir com ele, mas só agora, depois dessa exposição, eu consigo ver isso. O universo infantil te permite ser mais lúdico, não ter muitas amarras. Tudo é possível, e essa liberdade me encanta — conta.

Admiradora de Ziraldo
Carol admirava desde pequena o trabalho de Ziraldo e ficava horas e horas olhando os livros que seu pai, Vanderlei Cunha, tinha do cartunista mineiro. Adorava reproduzir os traços do criador de O Menino Maluquinho nas capas dos seus cadernos. Da mãe, Cleonice Cunha, costureira e estilista, veio a inspiração por criar objetos com as próprias mãos. Os pais sempre a incentivaram nas artes e guardaram os desenhos que ela fez na pré-escola.
Eu Fico com a Pureza foi o trabalho mais significativo de sua carreira. Agora, já está com saudade do processo produtivo das obras.
— Fiquei com um carinho muito especial por professores, coordenadores e diretores. A rotina deles exige muita dedicação e amor. Esse projeto é muito significante para mim também, pois meu trabalho sempre foi inspirado no universo infantil, mas nunca tinha tido um contato tão direto com as crianças para criar — explica Carol.

A inspiração
Talvez você já tenha ouvido falar desta obra. O livro Casa das Estrelas: o Universo Contado pelas Crianças surpreendeu ao se tornar o maior sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, no final do mês de abril.
As definições foram compiladas durante um período” entre oito e 10 anos”, enquanto o autor, Javier Naranjo, trabalhava como professor em diversas escolas rurais do Estado de Antioquía, no leste da Colômbia.
Entre as definições dadas pelas crianças, com termos de A a Z estão A de adulto (” Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro de si”, de acordo com Andrés Felipe Bedoya, de oito anos) e V de violência (” A parte ruim da paz”, segundo Sara Martínez, de sete anos).

A exposição
– Eu Fico Com a Pureza, da artista plástica Carol W
– Endereço: Urban Arts POA (Rua Quintino Bocaiúva, 715)
– Nas obras, além de tinta acrílica, foram utilizados giz e lápis de cor, material que os pequenos costumam usar para desenhar.
–Visitação: segunda (21/10) e terça (22/10), das 10h às 19h
Vivendo a vizinhança
Na parte da frente de sua casa, localizada na Comendador Azevedo, funciona o atelier da porto-alegrense, onde entra uma boa quantidade de luz natural. De lá, ela acompanha o movimento da rua.
A relação dela com o bairro vai muito além disso. A feira livre realizada na Praça Bartolomeu Gusmão, a Praça Florida, entrou para o cotidiano de Carol. Toda terça, compra frutas, queijos e outras gostosuras, incluindo um” pastel feito na hora que é uma delícia”. Aos sábados, aproveita o brechó de rua da São Carlos. Já no Moinhos, ela costuma frequentar os jardins do Dmae, local que considera ideal para fazer um piquenique e ficar deitada na grama.

Dicas da moradora
— Um detalhe para observar: as casas antigas lindas e coloridas principalmente nas ruas São Carlos e Gaspar Martins
— Um restaurante: Cozinha e Arte, na Cristóvão Colombo. Almoço todos os dias lá
— Um evento imperdível: a feira livre das terças, o brechó dos sábados e o encontro no Vila Flores
Com a palavra, Carol W
ZH Moinhos — Como você definiria a região, em uma palavra?
Carol W — Aconchego.
ZH Moinhos — Qual é a rua mais charmosa?
Carol — Dependendo da parte, a São Carlos e suas casas antigas.
ZH Moinhos — Como é o vizinho ideal?
Carol — Que deixa o outro viver a sua vida, que respeita o espaço e a individualidade do próximo.
ZH Moinhos — Qual o principal problema do bairro?
Carol — Sujeira. Outro problema é que muitas das casas antigas estão sendo derrubadas para a construção de estacionamentos.
ZH Moinhos — Se pudesse, o que mudaria no bairro?
Carol — A conscientização para manter as ruas limpas.
ZH Moinhos — O que nunca mudaria?
Carol — Essa atmosfera que o bairro tem de cidade pequena. Aqui as crianças ainda brincam na rua até tarde, sem que os pais se preocupem. Todos se conhecem e se cumprimentam.
ZH Moinhos — Como Porto Alegre seria sem o seu bairro?
Carol — Menos romântica.
ZH Moinhos — Como você imagina o bairro no futuro?
Carol — Espero que parem de derrubar as casas, que parem de descaracterizar o bairro. E que seja um bairro mais limpo.
Comentários