
Lucas desenhando em sua casa
Blogueira do ZH Zona Sul conta a história de um talentoso estudante da região. Ela busca ajuda para que ele possa aprimorar seu dom em cursos de desenho. Confira.
Por Janete da Rocha Machado
A história do homem está cheia de exemplos de pessoas que, apesar de nascidas em um meio adverso, venceram as dificuldades e se tornaram referência em sua área. Como explicar, por exemplo, a genialidade do escritor brasileiro Machado de Assis, nascido no Morro do Livramento, filho de um pintor de parede e de uma lavadeira que, ao vender doces nas escolas do Rio de Janeiro, aprendeu francês. Autodidata e inovador na narrativa literária, Machado chegou à condição de melhor escritor brasileiro devido a seu talento. Assim como o gênio do Realismo, ao longo dos anos, surgem crianças talentosas, cujo potencial precisa ser estimulado e valorizado. E esse fato tem sido, não raro, negligenciado por educadores e pela sociedade em geral.
Ao ministrar uma aula de história para alunos do sétimo ano da Escola de Ensino Fundamental Paulina Moresco, na Zona Sul, tive a grata surpresa de descobrir, em um grupo de mais de 30 alunos, um talento, ainda precoce, porém, promissor. Com um traço forte, criativo e bonito, Lucas Vicente Dorneles, 12 anos, chamou-me a atenção pelos seus desenhos bem elaborados e criativos. Por meio de uma ilustração, pude perceber a aptidão que estava ali, escondida por trás de uma aparência tímida. A proposta da atividade era que a turma representasse, na forma de um desenho ou de uma redação, alguns temas trabalhados em sala de aula. Entre os assuntos estavam aqueles que culminaram com a crise do sistema feudal na Europa, como a peste negra, a Guerra dos Cem Anos e a fome.
Quando perguntei a Lucas o que sentia ao desenhar, ele respondeu:
- Quando eu desenho, entro no meu mundo. Crio o que eu quero. Ou, então, ouço uma história e tento mostrar aos outros o que eu entendi. A Peste Negra, eu lembrei das aulas da professora e, aí, coloquei no papel em estilo cartoon. Com cinco anos, eu via aqueles curtas da Pixar e comecei a gostar de desenhar. Minha mãe congelava a imagem na TV para eu desenhar.

A Peste Negra retratada pelo estudante
Sem os recursos de um bom computador e internet em casa, Lucas utiliza como inspiração apenas os desenhos animados a que assiste nos canais abertos da televisão. Os blocos, cadernos de desenho são presentes de uma tia. Os lápis são 6B, os melhores para desenhar, como indica sua professora de Artes. A capacidade para criar, observando e aprendendo com rapidez e exatidão, independentemente do grau de instrução, são características daqueles que têm talento. Entretanto, sempre é necessário o estímulo e a prática. Alunos talentosos, invariavelmente, apresentam desempenho melhor que os demais – é fato. Evitar que um talento precoce seja perdido é compromisso de todos nós, educadores.
Explorar esse potencial, evitando que se perca, é a nossa obrigação. É preciso, seguindo exemplos de outros países, investir mais na educação das crianças e dos jovens, visando, principalmente, ao potencial existente nas escolas públicas de ensino. Há muito talento à espera de oportunidades e de investimentos. O ser humano é capaz de fazer história porque cria, inventa e inova. Porém, a escola pública com seus programas fechados e arcaicos e, principalmente com a falta de percepção e interesse de alguns professores, tem conseguido minar o potencial criativo de muitos alunos. Espera-se que o talento de Lucas possa ser reconhecido não só pela escola e por seus professores, como também por aqueles que de alguma forma possam ajudá-lo em seu crescimento e no seu sucesso futuro.

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